Ramon Lima tem 41 anos de idade, é professor de educação física e saiu da fila do transplante de rim em 2020. Em seguida, depois desse episódio, tornou-se o fundador da primeira Liga Nacional de Atletas Transplantados em 2022.
Desde que tenha sido transplantado há um ano, a Liga Nacional aceita pessoas de 4 a 80 anos em competição. Além disso, ainda é preciso haver uma declaração médica para autorizar alguém a participar de qualquer tipo de prova. Ou seja, a proposta é aumentar o número de pessoas na liga para fortalecer o movimento.
“Vi no esporte uma maneira de divulgar a doação de órgãos, desmistificar a ideia de que transplantado é alguém com muitas restrições e que não pode se exercitar. Foi preciso superar limites e medos. Percebi que poderia percorrer o caminho do esporte, que já fazia parte de mim, apenas depois de conhecer atletas transplantados”, admitiu Ramon.
Ramon é ativo nas redes sociais com os seus treinos e atuou na segunda edição Jogos Brasileiros para Transplantados, cujo torneio foi realizado de 1º até 4 de setembro de 2022 em Curitiba e recebeu 67 atletas do Brasil e América Latina.
MUNDIAL DE ATLETAS TRANSPLANTADOS
World Transplant Games vai acontecer de 15 a 21 de abril de 2023, na cidade de Perth, na Austrália, e está nos planos de Lima. No entanto, esse campeonato não dá suporte financeiro para um inscrito e todos os custos de deslocamentos e hospedagens ficam sob responsabilidade do participante.
Golf, boliche na grama, petanca, corrida de rua, futebol de seis, sprint triathlon, squash, natação, tênis de mesa, boliche, tênis, vôlei, atletismo, badminton, basquete, ciclismo e dardos fazem parte das competições do World Transplant Games. Este Mundial vai acontecer pela terceira vez em terras australianas e já foi sediado em Sydney em 1997 e Gold Coast em 2009.
“Sempre pratiquei esportes. Senti vontade de competir a partir da descoberta dos jogos voltados ao público, que recebeu um órgão e mostrar que os transplantados têm condições físicas de disputar eventos esportivos. Hoje não vejo meu dia a dia sem atividade física e sem pensar em como melhorar a divulgação da doação de órgãos”, falou Ramon.
A VISÃO DA MEDICINA
“Os transplantados que se exercitam internam menos, voltam mais rápido ao trabalho, à vida social e refletindo em mais qualidade de vida”, disse Alexandre Tortoza, nefrologista e coordenador do Serviço de Transplante Renal do Hospital Universitário Cajuru, 100% SUS, em Curitiba.
Pesquisas mostram que atividades físicas podem funcionar como remédio. Aliás, um estudo da Universidade Nacional Yang-Ming, em Taiwan, mostrou coletas de dados sobre a saúde e frequência de práticas aeróbicas de 4,5 mil pacientes com perda das funções dos rins. Dessa maneira, ao cruzar as informações, notou-se que a prática de exercícios fez diminuir 17% o risco de evoluir para fases mais graves da doença.
O Brasil viu o número de pessoas com doença renal crônica triplicar nas últimas duas décadas. Estima-se atualmente que 13 milhões sejam portadoras da doença e mais de 140 mil cidadãos façam diálise no país. 850 milhões de pessoas são calculadas em todo o planeta como acometidas de algum comprometimento renal.
“O grande desafio da doença renal é que, em sua fase inicial, ela é assintomática. Para reverter esses desfechos, a saída é trabalhar pela conscientização sobre os fatores de risco. Que levam ao colapso dos rins, caso de diabetes, hipertensão, obesidade e tabagismo”, detalhou o nefrologista.
A pesquisa da ABTO (Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos) foi divulgada no segundo semestre de 2021 e mostrou o Estado de São Paulo com o maior número de doadores de órgãos (419). O Paraná (190) ficou em segundo.
“Acredito que seja preciso o entendimento da população sobre a importância de se declarar doador de órgãos. Esse gesto pode salvar vidas de pacientes como o Ramon, que ressignificou a vida após receber um novo rim”, terminou Alexandre.