A polêmica voltou à tona quando uma metanálise publicada no Journal Annals of Internal Medicine não encontrou nenhuma evidência que justificasse a afirmativa de que a gordura saturada aumenta os riscos de doença cardíaca. A conclusão foi embasada em mais de 70 estudos e destaca que as pessoas que consumiam mais gordura saturada não apresentaram mais doenças cardíacas em relação àquelas que consumiam quantidades menores da mesma gordura.
Os dados colocam em xeque a credibilidade das diretrizes atuais de saúde. Contudo, como é de se esperar, mais estudos são necessários para dar força a esse achado. Na gangorra da ciência, despontam alimentos vilões e heróis da saúde que, ora saboreiam cinco minutos de fama, ora são rejeitados por notícias desanimadoras.
Diante de tantas informações e contradições, vejo muitas pessoas perdidas, adotando uma rotina alimentar confusa e infeliz. A ciência, como tudo, é imperfeita. Raramente um estudo é conclusivo, e muitos anos são necessários para se definir certas diretrizes de saúde. Além disso, não podem levar em conta as nossas individualidades. No caso da manteiga (e também das carnes), ainda é cedo para liberar seu consumo sem preocupações. Mas, há hoje, mais argumentos para alavancar a hipótese de que, mais uma vez, o bom senso é o que deve reger à mesa. E, partindo daí, pouca ou nenhuma vantagem deve levar aquele que corta toda gordura saturada da dieta em relação àquele que apenas reduz e pondera seu consumo.
Cuidado ao rotular os alimentos como maléficos ou benéficos. Alguns proporcionam muitos benefícios, outros menos. Nenhum é completo ou perfeito, nenhum vai salvar vidas ou matar alguém. O que vale é o conjunto. Se a dieta é baseada em alimentos processados, cheios de açúcar e substâncias químicas, há de se esperar consequências ruins, independentemente da gordura saturada. Se a rotina alimentar inclui frutas, vegetais, carnes, grãos e cereais em quantidades equilibradas, que mal há em fazer um pãozinho francês com um pouco de manteiga?
A instigante pesquisa publicada em março deste ano projeta os holofotes novamente sobre as gorduras saturadas. Eu, particularmente, simpatizo mais com a manteiga, alimento de verdade e saboroso, do que com suas maquiadas concorrentes, as margarinas. Independentemente das novas tendências, há de se manter a coerência. Não vamos responsabilizar um alimento por sua boa ou má saúde. Se há um responsável por isso, esse alguém só há de ser você e os seus hábitos.