Texto: David Cintra
Evolução, futebol e corrida
Acabei de ler o livro A Conquista Social da Terra, do biólogo estadunidense Edward O. Wilson. Qual não foi minha surpresa quando, ao refazer o possível percurso da evolução do Homo sapiens, o autor colocou como um dos fatores fundamentais para a sobrevivência da espécie ter adquirido a habilidade de correr longas distâncias. Isso nos deu uma vantagem enorme na perseguição às caças que, apesar de serem mais rápidas em curtas distâncias, eram perseguidas por quilômetros até serem vencidas pelo cansaço. Meu esporte favorito foi decisivo para a evolução humana! Está no nosso DNA há alguns milhões de anos!
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A corrida começou a fazer parte de minha vida quando estive no Exército, com 19 anos. Até então, esporte para mim era futebol, que eu jogava diariamente quando criança e em peladas esporádicas na adolescência. No quartel aprendi a correr longas distâncias e até gostava, mas por ser algo obrigatório, na cabeça de um rebelde por natureza, não mantive a prática depois que saí.
O tempo passou e tanto corrida como futebol foram excluídos de minha rotina. Mas depois dos 40, o corpo e o metabolismo começaram a mudar, ou melhor, a desacelerar. Aos poucos sentia que minha vitalidade, antes mantida pelo fato de meu aparelho biológico ser jovem, começou a desaparecer, sem maiores explicações. E mais: sem nada que pudesse contê-la, a lei da “gravidade lateral” começou a se fazer valer e a barriga foi ficando cada vez maior. Então, amigos de trabalho me convidaram a fazer parte de um grupo que jogava futebol uma vez por semana. Topei, mas sabia que se jogasse por cinco minutos naquelas condições físicas, as dores musculares me lembrariam que a juventude já havia passado.
Assim, elaborei um plano para readquirir o mínimo de forma física. Voltei a correr. No primeiro dia, quase não consegui dar a volta em um quarteirão. Mas fui em frente. A cada semana fazia três ou quatro corridas, que não passavam de 1,2k. Aí cheguei nos 2k, depois nos 3k e, finalmente, nos 5k. Isso levou cerca de seis meses! Voltei ao futebol. As distâncias foram ficando maiores. Passados uns quatro anos, corro com facilidade 20k. Já fiz 25k e 30k algumas vezes. Jogo futebol toda semana e consigo acompanhar a correria de caras 20 anos mais jovens do que eu – alguns até mais do que isso.
A barriga sumiu, a disposição melhorou consideravelmente. Agradeço à corrida e ao futebol poder ouvir anualmente do médico que meus exames estão excelentes. Isso é evolução para mim. David Cintra, 51, a caminho da primeira maratona.