Nada mais brasileiro do que a farinha de mandioca. Quando os navegadores europeus aportaram por aqui, os índios já haviam desenvolvido a técnica para neutralizar o veneno da mandioca brava ou amarga e fazer a farinha. O farelo energético que podia ser armazenado foi a barrinha de cereais dos nossos antepassados. Garantiu a sobrevivência de indígenas e colonizadores e foi utilizado de norte a sul do país ao longo dos séculos.
Gabriel de Carvalho, nutricionista que trouxe o termo nutrição funcional para o Brasil no final dos anos 1990, retoma a lógica básica por trás da necessidade de colocar esses concentrados no prato. “As pessoas precisam porque estão deficientes. Por que o colesterol baixa (com as farinhas)? Porque as pessoas comem pouco ômega-3, pouco peixe, por exemplo, e estão carentes” diz. Ou seja, o alimento faz bem porque compensa um desequilíbrio. Gabriel, que come linhaça todos os dias, aprova as farinhas como complementos na prevenção de doenças ou na fase de manutenção após um tratamento.
Para evitar a armadilha sensacionalista dos “alimentos mágicos”, é bom ter em conta que a indicação desses produtos se baseia na composição química. Para boa parte dos especialistas, ainda faltam estudos científicos mais relevantes em humanos. Quando se obtém resultados animadores em cobaias, surgem evidências, mas algumas questões ficam pendentes. Uma delas é quanto o organismo humano consegue aproveitar os nutrientes do alimento, ou seja, da farinha, que é chamado de biodisponibilidade, em linguagem técnica.
Fibras solúveis e insolúveis ajudam a ficar em paz com o colesterol, a glicose, a balança e o relógio intestinal, além de reforçar a imunidade. As fibras ficam mais tempo no estômago e tornam mais lenta a absorção da glicose, evitando os picos nas taxas de açúcar. Níveis mais estáveis de glicose favorecem tanto o equilíbrio do diabetes quanto o mecanismo da saciedade, pois enquanto têm combustível para queimar as células não mandam mensagens de fome para o cérebro.
Aliadas na prevenção das doenças cardiovasculares, como o infarto e o acidente vascular cerebral (AVC), as fibras são capazes de enxugar o excesso de colesterol, carregando com elas parte das gorduras. E ainda servem de alimento para as bactérias do bem que moram no intestino. No final, tudo vai embora com muito mais facilidade, numa saudável faxina interna.
Cuidados na compra
Prefira a farinha estabilizada, que preserva o ômega–3. Devido a uma enzima chamada lipase, ela oxida e fica rançosa. Se não quiser pagar mais caro, você pode comprar a semente e triturar, no liquidificador, pequenas quantidades, suficientes para um período de três dias a uma semana, no máximo, guardando a farinha em seguida no refrigerador, de preferência em um vidro escuro. Outra estratégia para neutralizar a lipase é tostar as sementes (elas vão estalar) em uma panela de aço ou ferro antes de moer.
Força para quem treina
O ômega-3 tem atuação anti-inflamatória que previne e cura lesões. As farinhas de linhaça e de soja preta são as melhores opções. Os ácidos fenólicos dão força para neutralizar o estresse oxidativo da atividade física intensa e eles estão bem presentes nas farinhas de uva e soja preta.
Antes de saber como o seu corpo vai responder, evite comer as farinhas muito perto da hora do exercício. No início, podem produzir gases ou algum desconforto gástrico.