Um programa de treinamento que contenha apenas uma corrida por semana está para ser inventado. Ou para não ser, pois dificilmente alguém vira maratonista ou melhora seus tempos nos 10 km e na meia maratona correndo tão pouco. Mas se você colocar uma pelada (de futebol) e uma sessão de musculação na fórmula, talvez até dê para se manter razoavelmente em forma.
É dessa maneira que um ex-jogador de futebol premiadíssimo, o homem que mais usou a camisa da Seleção Brasileira, o grande capitão do penta de 2002, se condiciona desde que se aposentou do futebol profissional em 2008, aos 38 anos de idade.
O paulistano Marcos Evangelista de Morais, o Cafu, destacou-se no futebol um tanto pela versatilidade (à exceção do gol e do meio de zaga, jogou praticamente em todas as posições), pela técnica e muito pela condição física. Na lateral direita, indo ao ataque e voltando constantemente para defender, percorrendo muitas vezes a cada partida os até 120 m de comprimento do campo, ele foi incansável. Trata-se de um dos mais bem preparados jogadores das últimas décadas.
A corrida
Sua genética é privilegiada, mas sem seus treinos de corrida, muito frequentes no tempo de jogador, Cafu provavelmente não teria o sucesso profissional que alcançou. Ele começou a jogar no meio-campo, e depois foi fixado como lateral-direito, posição em que, segundo ele, chega-se a correr 20 km numa partida.
A resistência era chave nessa posição, muito mais do que a explosão, tão necessária para os atacantes. “Corrida de longa distância faz parte da preparação física de todo jogador. Eu sabia que meu forte era a resistência. Chegava um determinado momento do jogo em que os adversários reduziam o ritmo. Era a hora em que eu aumentava a velocidade porque eu treinava muito corrida de longa distância”, explica Cafu.
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Por ajudar a dar a Cafu a condição física que teve – e tem –, a corrida representa “tudo” para ele. Tudo e mais um pouco, pois ela ainda tem propriedades terapêuticas. “É o meu momento de relaxamento, quando quero pensar nas coisas sem ser interrompido. Ela condiciona e ainda tira o estresse”. Cafu gosta de correr sozinho, em silêncio, sem fones de ouvido.
Determinação
Com tanta autodeterminação, Cafu também teve sorte por jamais ter se lesionado com gravidade. Passou apenas por uma artroscopia no joelho. Nada de especial para jogadores de futebol, que, como se sabe, é um esporte que exige muito dessa articulação.
Exemplar em seu tempo de futebol profissional, foi exemplar também na hora de deixá-lo. “Eu me preparei com dois anos de antecedência. Preparei a cabeça, o corpo, a casa onde eu iria morar quando voltasse da Itália. Não é fácil parar, muitos jogadores acostumados a ter tudo o que querem, na hora em que querem, quando param, piram.”
Eternamente grato à corrida, o ex-jogador também é muito grato ao futebol. “Se não fosse pelo futebol, não estaríamos conversando aqui.”
Texto: Paulo Vieira do Blog Jornalistas Que Correm | Edição: Victor Moura | Fotos: Marcelo Trad