Um estudo norte-americano realizado com mais de 5,5 mil pessoas, com 75 anos em média, mostrou que caminhar diariamente contribui para a longevidade. A pesquisa saiu no Journal of the American Heart Association e mostrou que, mesmo com hábitos saudáveis como evitar o tabagismo e controlar a pressão arterial, os idosos que não caminham estão mais suscetíveis a ataque cardíaco, insuficiência cardíaca e acidente vascular cerebral.
O interesse dos pesquisadores era avaliar a relação da saúde cardiovascular com a função física, o que é diferente de aptidão. Enquanto a última se refere ao desempenho em atividades esportivas, a primeira tem relação com a capacidade de executar ações do dia a dia. Se levantar sozinho, não ter problemas de equilíbrio e caminhar sem dificuldade são exemplos.
Para isso, os pesquisadores da Escola de Saúde Pública Johns Hopkins Bloomberg, nos Estados Unidos, utilizaram uma bateria de testes que avaliou essas três variáveis. “Descobrimos que a função física em adultos mais velhos prevê doenças cardiovasculares futuras, além dos fatores de risco tradicionais de doenças cardíacas. Isso independentemente de um indivíduo ter histórico de doença cardiovascular”, conta o autor sênior do estudo, Kunihiro Matsushita, professor associado do departamento de epidemiologia da instituição.
Caminhada e longevidade
O estudo mediu a função física para produzir um escore de acordo com a velocidade de caminhada, velocidade de levantar de uma cadeira sem usar as mãos e o equilíbrio em pé. Os participantes foram categorizados de acordo com o desempenho: baixo, intermediário e alto. Entre todos os voluntários, 13% se encaixaram no primeiro grupo; 30% no segundo, e 57% no último.
Todos os participantes foram acompanhados por oito anos, período durante o qual 930 foram diagnosticados com um ou mais eventos cardiovasculares. Desses, 86 sofreram ataque cardíaco, 251 tiveram um acidente vascular cerebral (AVC) e 529 desenvolveram insuficiência cardíaca. Os pesquisadores, então, examinaram a associação dos escores do teste com essas ocorrências.
Os resultados mostraram que, em comparação com adultos com altos escores de função física, os com pior pontuação se mostraram 47% mais propensos a sofrer pelo menos um tipo de doença cardiovascular. Já aqueles enquadrados na categoria intermediária apresentaram um risco 25% maior.
“A associação entre função física e doença cardiovascular permaneceu após o controle de fatores de risco tradicionais de doenças cardiovasculares”, disse, em nota, o principal autor do estudo, o epidemiologista Xiao Hu. “Nossas descobertas destacam o valor de avaliar o nível de função física de idosos na prática clínica. Além da saúde do coração, os idosos correm maior risco de quedas e incapacidades. A avaliação da função física também pode informar o risco dessas condições em idosos”, destaca.
Por onde começar
Em entrevista ao Correio Braziliense, o cardiologista Carlos Rassi, professor da Universidade de Brasília (UnB) e chefe do pronto-atendimento do Hospital Sírio-Libanês de Brasília, lembrou que estudos anteriores já demonstraram o impacto das atividades físicas na longevidade. Isso porque, abandonar o sedentarismo reduz o risco de diversas enfermidades. “Pode-se começar com cinco minutos de caminhada diária e três meses depois aumentar para 10, por exemplo. O importante é não ficar parado”, declarou.