Há quatro anos, a história era outra. Rogério Lavieri, coordenador de projetos na Siemens, se descobrira portador de uma hepatite autoimune, doença rara que debilita e “mata” o fígado. “Dois dias após ter o diagnóstico, eu tive de ir para o hospital e precisava de um transplante imediato”, conta. Por sorte, ele conseguiu um doador.
Já recuperado e levando uma vida normal, foi novamente pego de surpresa e diagnosticado com a síndrome de Guillain-Barré. “A doença te deixa tetraplégico, você fica paralisado sabendo tudo que está acontecendo, respirando e pensando, mas não se mexe, vira um vegetal.” Mais uma vez, Lavieri botou para quebrar e, depois de muita fisioterapia, voltou a andar. Mas nessa altura, vencendo também uma depressão, ele havia ganhado um bom peso.
“Se eu aceitasse o prognóstico dos médicos, continuaria em casa, trabalhando e mantendo uma vida como um transplantado comum. Mas Geise, minha esposa, nunca aceitou isso e não parava de me incentivar a praticar algum esporte.” De tanto insistir, ele decidiu arriscar. “Eu era praticamente forçado por ela. Por mim, ficava em casa assistindo TV e tomando sorvete, mas minha esposa não desistia.”
Vencido, ele começou a treinar meio sem compromisso e percebeu que estava emagrecendo, o que serviu de incentivo. “A ‘culpada’ de tudo isso é a minha esposa. Ela enfrentou todo o meu drama e viu o quão debilitado eu fiquei e como eu estava deprimido”, explica.
Nos dias em que Rogério dá aquela vacilada para treinar, Geise ataca o marido no ponto fraco dele: “Sou louco por sorvete e para poder comer doce eu preciso treinar, é um acordo que tenho com ela”. Ele continua: “A gente já não tinha treinado em uma segunda-feira e na quarta estava com preguiça. Daí lá veio ela dizendo que no domingo iríamos a uma sorveteria se eu saísse da cama. Toda essa ‘chantagem’ só para eu poder tomar um mísero sorvete.”
Como todo transplantado, ele é considerado deficiente físico, mas isso não o abala, até porque as ambições de Rogério são altas: disputar uma meia maratona nesse ano. “O que mais me motiva é saber que me superei e saí do sedentarismo. Hoje, todos têm orgulho de mim porque consigo fazer muita coisa que uma pessoa normal não consegue.”
Texto: Amanda Preto e Pedro Neves