Responsável pela morte de, aproximadamente, 3 milhões de pessoas ao redor do mundo, a pandemia de Covid-19 pode deixar ainda mais sequelas. Em um estudo publicado no Journal of Development Research, que buscou descrever o grau de lesão miocárdica associada aos pacientes que positivaram para o vírus, foi constatado que a doença causa aumento no risco de aparecimento ou agravamento de doenças do sistema cardiovascular.
O Dr. Roberto Yano, especialista em Cardiologia pela Sociedade Brasileira de Cardiologia e em Estimulação Cardíaca Artificial pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular, foi um dos responsáveis pela pesquisa. “Com relação ao coração é irrefutável que, nos casos mais graves da infecção, exista uma probabilidade de ocorrer sequelas cardiovasculares, como insuficiência cardíaca, infarto e AVC”, explica.
Durante a análise dos dados que o estudo aborda, foi possível constatar que, no nível cardiovascular, o acometimento de lesão miocárdica é prevalente, geralmente em níveis baixos, entre os pacientes com Covid-19 com crises mais agudas e está associado a agravamentos posteriores no sistema cardiovascular.
A miocardite aguda também foi relacionada durante o estudo como uma das complicações mais associadas à doença. “A inflamação é uma das possíveis causas da lesão miocárdica, que pode levar a complicações e piorar o prognóstico da doença, podendo evoluir para um caso fatal. Pacientes com histórico de doença arterial coronariana sem lesão miocárdica tiveram um prognóstico relativamente melhor”, aponta o médico.
Sobre a importância do estudo, o cardiologista Dr. Roberto Yano aponta que, cada vez que surge um vírus novo, é um desafio para a comunidade científica correr contra o tempo para entender o fenômeno, ainda mais quando se trata de uma doença que tomou proporções pandêmicas. “É necessário antecipar os estudos para conhecer melhor o desenvolvimento da doença, assim como compreender quais sequelas permanentes esta doença deixará em relação ao sistema cardiovascular”, defende.
Atividade física, amiga do sistema cardiovascular
“Sabemos que a prática de exercício físico regular é fundamental para nossa saúde. No cenário atual em que vivemos, o sedentarismo tem se tornado cada vez mais prevalente em nossa população. Vivemos num país culturalmente sedentário e notamos um aumento ainda maior no decorrer dessa pandemia. Para o sistema cardiovascular isso é terrível. Sabemos que pessoas sedentárias morrem mais de doenças cardíacas. O sedentarismo leva a obesidade, ao diabetes, ao aumento da pressão arterial, ao aumento dos níveis de colesterol ruim e dos triglicérides, à diminuição do HDL-colesterol, ao aumento dos níveis de stress, da piora da depressão e da ansiedade”, comenta.
“Todo esse conjunto de fatores faz aumentar exponencialmente as chances do paciente sedentário vir a ter doenças cardiovasculares como um infarto ou um derrame cerebral. Sabe-se também que pessoas saudáveis e que praticam exercício físico regularmente (150 minutos por semana) tiveram no geral uma evolução mais benigna ao contrair o Covid-19 quando comparados às pessoas sedentárias. Mostrando, mais uma vez, a importância de nos mantermos ativos em tempos de pandemia”, conclui.