Segundo uma pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde em 2020, a ansiedade é o transtorno mais presente durante a pandemia de Covid-19. O Brasil, mesmo conhecido como um país alegre, já era considerado pela OMS como o país mais ansioso do mundo. Antes da pandemia, era estimado que 8,6 milhões de brasileiros sofriam com esses transtornos segundo a OMS. Com o isolamento social, as incertezas e medos, o quadro agravou, com aumento na procura por psicoterapias e por medicamentos.
Para a psicóloga clínica Luciana Deutscher, a tristeza que muitos vivem hoje é decorrente não só do cenário da pandemia em si mas muito da politização que fizeram a respeito da pandemia no Brasil, aliando ao fato da vida social ter sido afetada. “Hoje nos deparamos com verdadeiras guerras de opiniões divergentes. São amigos que não queremos ver, colegas de trabalho que queremos evitar, fora as divergências na questão do controle da pandemia. O abre e fecha das atividades, a falta de controle em relação a novos casos, a esperança de que tínhamos que ao chegar as vacinas tudo ia melhorar e a imunização lenta acabou acumulando e está sendo determinante para esse esgotamento geral da população”, alerta.
Outro fator que mexe com a saúde emocional de todos é a falta de empatia coletiva. “Quem não está pensando na sociedade, no próximo, pensa somente no que lhe faz bem nas suas necessidades. E quem está se cuidando, abdicando de encontros sociais acaba sofrendo porque o outro não se cuida e principalmente não cuida dos que estão a sua volta, e acaba sofrendo pacificamente”, explica Luciana. Nessas situações, a psicoterapia orienta em como viver melhor e se adaptar as situações que não estão sob o nosso controle e que perdurarão por um tempo ainda maior, dependendo única e exclusivamente da imunização coletiva.
Segundo Luciana, aos primeiros sinais de que algo não vai bem com a saúde emocional, como aumento da ansiedade, medo do vírus, a sensação de estar sendo impedido de realizar as atividades, a falta de sono, desânimo ou redução na concentração, são os sinais que aparecem para alertar que precisa de ajuda. “Se alguns desses sintomas está te incomodando, principalmente reduzindo a produtividade no trabalho ou na escola, e com a sensação permanente que não está dando conta de tudo, é hora de procurar uma psicoterapia”, pontua.
A psicoterapia é realizada por psicólogo. Ao procurar esse tratamento, a pessoa deve se certificar da formação e principalmente se é cadastrado no Conselho Regional do Estado. Antes de escolher quem vai procurar, precisa levar em conta o que de fato está incomodando e o que se quer com a terapia. “É importante saber qual linha terapêutica o profissional adota e se aquele formato combina com você”, explica Luciana. “Às vezes a pessoa não quer uma psicoterapia tradicional por busca do autoconhecimento ou ficar revisando o passado. Ela quer resolver o que incomoda no momento, e para isso existem linhas de atuação diferentes”, enfatiza.
Luciana trabalha dentro da Psicoterapia Positiva, na prevenção da saúde mental, sintomas e bem-estar emocional. “Essa linha de trabalho permite focar não somente naquilo que incomoda o paciente, mas nos pontos positivos e negativos para melhor lidar com a situação e na utilização de técnicas de terapia cognitiva comportamental que vão ajudara mudar algumas atitudes e principalmente a forma de agir perante determinadas situações, uma abordagem pragmática”, explica. Segundo ela, o modelo que está aplicando atualmente é de psicoterapia breve, que leva em conta o momento que está sendo vivenciado. “O paciente pode não querer uma terapia que demore anos, mas sim uma ação focada no momento, naquilo que está fazendo mal. Hoje por exemplo, muitos pacientes me procuram para estar bem, emocionalmente, dentro de um cenário pandêmico e como viver melhor o agora”, afirma.
Mesmo optando por um modelo de psicoterapia breve, nada impede do paciente, se quiser, dar continuidade ao tratamento para o autoconhecimento. “O importante é prevenir. Ao aparecer os primeiros sintomas de que a saúde emocional não está legal, procurar um profissional e esquecer os tabus que existem a respeito da terapia”, alerta Luciana. Vale ressaltar que a saúde emocional e mental influencia diretamente na saúde física e vice-versa. “Se não tratarmos adequadamente esses sintomas, pode resultar num agravamento dos quadros mentais”, finaliza.