Por Marina Gomes
Um é pouco, dois é bom, três é demais? Nem sempre, garantem os praticantes de triatlo. Para essa turma, o grande barato está em unir natação, bike e corrida. E, de certa forma, eles estão certos. Além de garantir um corpo sensacional – magro e forte –, o trio garante muitos benefícios para a saúde.
“O triatlo reúne algumas características importantes para o coração. Ele promove o condicionamento de resistência, com um predomínio aeróbico, mas também de força, recrutando fibras musculares envolvidas com o processo de explosão, ou seja, anaeróbico (de grande intensidade e curto espaço de tempo). A combinação dos dois metabolismos é mais benéfica para o coração do que apenas o aeróbico ou o anaeróbico isoladamente”, diz o cirurgião cardíaco Alexander Anderson, pós-graduado em Medicina do Exercício e do Esporte e coordenador da divisão de Medicina do Esporte da Clínica Vertù.
Quem acha o esporte interessante, mas tem receio de começar, pode se animar. Uma das barreiras é pensar que é necessário ser um super-homem para praticá-lo, o que não é verdade. É preciso disciplina, claro, mas as distâncias mais curtas não requerem treinamento excessivo. Dos EUA, Sérgio Borges, da X Training, trabalha com triatletas de 17 a 80 anos e garante que o triatlo pode ser feito por todos. “Provas de short triatlo são ideais e muito divertidas, além de a recuperação ser bem mais rápida do que de provas de meio ou Ironman. É o mesmo princípio de corredores, que devem iniciar com provas de 5 km e 10 km antes de uma maratona, para estabelecer uma base com força, técnica e velocidade antes de partir para volume de provas longas. O bom desse esporte é que qualquer um pode fazer qualquer prova, desde que treine corretamente, de preferência com um técnico experiente, para evitar lesões ou fadiga extrema”, confirma Borges. Você não pode, porém, descuidar dos exames médicos, que devem estar em dia.
Mesmo quem só faz academia pode dar os primeiros passos com sucesso. Aqueles que já praticam um ou outro esporte levam vantagem, é verdade. “Para um principiante que já corre, por exemplo, aconselho ênfase na natação e a prática do ciclismo duas ou três vezes por semana, e o mesmo para a corrida. A natação exige mais tempo/atenção por ser, dos três, o esporte mais técnico. Quando o atleta vem da natação, fica um pouco mais fácil, mas ele também encontra problemas na corrida, devido à mecânica de pisada, pois nadadores sempre mantêm os pés apontados, causando encurtamento do tendão de aquiles e da panturrilha”, lembra Borges. Como todo esporte, convém aumentar progressivamente os treinos para não sobrecarregar pés, joelhos e quadril.
Quase todo dia
Mesmo que os treinos sejam curtos, não se engane, você vai precisar se dedicar quase todos os dias a pelo menos uma modalidade. O ideal é, para cada uma, fazer trabalho de técnica e ganho de condicionamento, ou seja, se você nadar três vezes por semana, pode focar duas vezes em técnica e velocidade (que também ajuda na técnica) e uma em endurance.
Não é raro que duas modalidades sejam trabalhadas em um dia, então, para não tomar muito tempo, pode-se optar por fazer parte do treino pela manhã e parte à noite. “O mínimo que se deve fazer durante a semana são seis treinos (dois de cada modalidade), sendo natação e corrida com duração entre 30 min e uma hora e pedal entre uma e duas horas. Levantar às 5h não é regra, mas é uma opção muitas vezes escolhida por questão de logística, segurança ou pelo grupo de treino”, completa o treinador Diego Lopez, da Equipe Trilopez.
“As dificuldades para conciliar o trabalho com os treinos certamente surgirão, mas os treinos se encaixam a qualquer rotina, por mais rígida que seja”, diz o advogado Kleber Corrêa, 35 anos, que pratica duas modalidades por dia, sejam ambas à noite ou ciclismo pela manhã e outra à noite. “Nos períodos com maior frequência, chego a treinar sete dias por semana, mas o normal é termos um dia off. Já pratiquei tênis, futebol, handebol, capoeira, judô, basquete, vôlei e corrida, mas foi no triatlo que encontrei minha verdadeira paixão pelo esporte”, afirma
Mesmo com a dificuldade de conciliar trabalho, família, amigos e outros compromissos, a maior parte dos triatletas afirma ser um caminho sem volta. “A vida era muito mais dura antes de iniciar os treinos, agora que eu sei que consigo fazer e encaixar essas “loucuras saudáveis” na vida, encaro qualquer desafio”, completa a arquiteta Ana Cristina Hiromi Ono, de São Paulo, que já fez todas as etapas do Troféu Brasil de Triathlon e pretende estrear no meio Ironman. “Tempo e paciência são palavras de ordem. Você passa os primeiros dois meses praticamente dormindo em pé, pois acordar às 4h, 5h para treinar não é fácil, e seu relógio biológico leva tempo para se acostumar a essa rotina. Jantares e baladinhas também vão diminuindo, pois é necessário dormir cedo”, lembra.
Se por um lado a vida social acaba ficando em um segundo plano, não é menos verdade que outros laços afetivos são criados com os parceiros de treinos e provas. E, nestes círculos de amizade, ninguém vai ficar bravo se você só falar em esporte, suplementos, bikes, e recusar a porção de batata frita.
Transição e equipamentos
Não basta nadar, pedalar e correr. A organização para conciliar tudo é a verdadeira parceira do triatleta. É importante lembrar que, além das três modalidades, há ainda treino de fortalecimento muscular e de transição. “No início, a transição é um problema. É tanta coisa: tirar roupa de neoprene, colocar sapatilha, capacete, tomar gel, água, voltar, soltar tudo, colocar tênis e sair pra correr – que parece fácil, mas, quando você se depara com tudo, não sabe se calça a sapatilha primeiro ou se coloca o capacete, daí cai tudo no chão e você fica mais atrapalhado ainda. Mas é divertido”, conta Ana Cristina.
Os treinos de transição ficam para os fins de semana, quando mesclam pedal e corrida. “São essenciais para habituar a mudança de modalidade e gasto energético”, garante Fabio Rosa, da MPR Assessoria Esportiva.
Nutricionista, suplementos, treinador, academia, bike e inscrições deixam o esporte bastante salgado no início. A lista de equipamentos inclui touca e óculos de natação, capacete, óculos, luva e sapatilha para bike e tênis para corrida. Usar um macacão ou top e shorts próprios para triatlo com os quais você possa nadar, pedalar e correr é mais prático.
O mais caro, no entanto, é a bicicleta. Para iniciantes, não é preciso investir em uma específica para o esporte (contrarrelógio ou time trial), que são bikes mais aerodinâmicas e rápidas, porém menos versáteis e que, por isso, exigem mais habilidade. Uma bike de estrada (speed) dá conta do recado, sendo mais barata e fácil de manusear. Uma opção é adaptá-la e colocar um clip no guidão para proporcionar uma posição mais aerodinâmica. Você encontra boas opções a partir de R$ 3 000.