Texto de Carlos Amoedo
“Todo mundo fica tenso e ansioso antes de uma prova importante. O corredor que diz que nunca sofreu com ansiedade antes da corrida é mentiroso”, diz o atleta olímpico britânico Gordon Pirie. Mas, muitas vezes, o medinho pode se transformar em medão, em verdadeiro pânico, em ataque de nervos. Tanto que muitos treinadores admitem já ter testemunhado gente que até vomita, fica com dor de barriga e finge uma lesão para “fugir” da expectativa de não ter um bom rendimento.
Para Carla Di Pierro, psicóloga do esporte da clínica Care Club (SP), a ansiedade regada a pensamentos negativos é mais comum do que se imagina entre esportistas, inclusive corredores. “A prova é um momento da busca da realização e da satisfação pessoal. Dependendo da meta do corredor, pode ser frustrante não alcançar o objetivo traçado”, diz ela. “Diante da dúvida de atingir a meta estipulada, de vencer a prova ou o desafio determinado, o pensamento pode levar o atleta para zonas indesejáveis, e isso gera ansiedade, relacionada à apreensão do que está por vir.”
A partir do momento em que um corredor interpreta uma situação ameaçadora, o cérebro entende que precisa se preparar para enfrentar o “perigo”. Assim, ele autoriza a descarga de substâncias como adrenalina e cortisol na corrente sanguínea, que contraem a musculatura e aumentam a frequência cardíaca e respiratória. Essas substâncias deixam também o sistema imunológico em alerta e garantem produção rápida de energia para que o corpo reaja de forma rápida e eficiente ao “perigo” detectado.
Tensão, contratura muscular, calafrios, dificuldade de concentração, nervosismo e insônia são alguns dos efeitos provocados por essa operação. Em alguns casos, essa sensação iminente de perigo pode chegar a provocar um ataque de pânico. “Um pouco de ansiedade antes da prova é algo positivo. Isso faz com que a adrenalina, por exemplo, produzida pelo seu corpo, injete disposição em você, o que ajuda a melhorar o rendimento na corrida. O problema é quando há excesso de ansiedade”, diz Pat Tyson, treinador da Gonzaga University (EUA), em entrevista à Sport Life.
Eis algumas sugestões para evitar que a ansiedade saia do seu controle e o prejudique antes ou durante uma prova.
Identifique o que é um estímulo ameaçador
Questionando os seus medos, você vai se sentir mais tranquilo, principalmente se descobrir que eles são incapazes de conter o seu ímpeto de fazer uma boa prova ou de que o prazer proporcionado pela corrida é mais relevante.
Treine o autocontrole
Assim que você diagnosticar qualquer sinal de ansiedade, seja nos treinos, seja no pré-prova, coloque em prática algo que possa acalmá-lo, como respirar lenta e profundamente ou fazer coisas que lhe dão prazer. Vale ouvir música, ou simplesmente deixar de correr naquele dia para praticar alguma outra atividade prazerosa. Jamais deixe para treinar o autocontrole contra a ansiedade momentos antes ou no decorrer da prova. Você precisa saber como agir antecipadamente contra todos os temores que ameaçam o seu rendimento. “Também ajuda participar de provas menos importantes do que aquela que é o seu objetivo, pois elas simulam todo o ambiente e o clima que vai encontrar no dia decisivo”, diz Danilo Balu, bacharel em esportes de São Paulo.
Pense positivo
Sempre que perceber que a ansiedade está roendo os seus nervos, desvie seus pensamentos para fatos positivos, como imaginar-se cruzando a linha de chegada inteiro e com disposição.
Desacelere
Prática comum e benéfica entre corredores, diminuir o ritmo do treinamento ou “desacelerar” uma ou duas semanas antes da prova pode ajudar a relaxar, assim como tirar a cabeça da corrida, procurando fazer outras atividades. Isso, porém, não é solução para todos. Há corredores que ficam ainda mais ansiosos quando desaceleram, achando que isso pode prejudicar o rendimento. Pense também no que quer fazer depois da prova e coloque na cabeça que ela não significa o fim da linha. Em outras palavras, tirar qualquer expectativa ou importância que você colocou na disputa desejada ajuda bastante.