As cãibras incomodam demais. São contrações involuntárias dos músculos e, normalmente acontecem após o término de uma atividade física mais intensa. Além do incômodo físico, elas podem te atrapalhar em momentos importantes, como uma reunião de negócios ou, ainda, durante seu sono.
Porém não tem nada de errado com quem sofre disso. Pois, especialistas afirmam que a cãibra é tão comum que aflige quase todo mundo que faz um esporte de resistência. Só para que se tenha uma ideia, elas atormentam 39% dos maratonistas, 79% dos triatletas e 60% dos ciclistas.
No caso dos corredores, quem sofre são as panturrilhas (batata da perna), os posteriores da coxa, mas até o abdômen pode ser pego de surpresa. E o pior, elas podem surgir antes, durante e mesmo horas e horas depois que a prova acabou.
O grande problema é que elas ainda continuam sendo um mistério para a ciência. O que se sabe com total segurança é que elas são uma espécie de efeito colateral de algumas doenças, entre elas a aterosclerose, que leva ao estreitamento dos vasos sanguíneos. “O sangue encontra dificuldade para circular nas veias e abastecer os músculos com água e minerais”, observa Fernando Soares Moreira, médico pós-graduado em Medicina Desportiva pela Unifesp. O hipotireoidismo, o diabetes e o uso de certos medicamentos, como é o caso dos diuréticos, também podem fazer com que elas apareçam de uma hora para a outra. “O uso de diurético para o tratamento da hipertensão ou por quem tem retenção de líquidos elimina sódio e potássio do organismo em grande quantidade, causando um desequilíbrio hidroeletrolítico que pode gerar cãibras”, acrescenta.
Até mesmo o estresse corrobora com as cãibras. “Diante de situações de estresse, a descarga de adrenalina e a irritabilidade tornam os músculos contraídos, podendo gerar cãibras”, conta Rogério Tuma, neurologista do Hospital Sírio-Libanês especializado pela FMUSP, Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Afora isso, o que existe são hipóteses.
Teorias sobre as cãibras
Apesar de da incerteza, a falta de hidratação adequada é o principal fator.
A segunda teoria, chamada de eletrolítica, afirma que o culpado seria a perda excessiva de sódio e potássio pelo suor. O corpo simplesmente perderia a capacidade de contrair regularmente. “A baixa concentração desses elementos levaria a um desequilíbrio hidroeletrolítico e o organismo perderia a capacidade de gerenciar impulsos nervosos, principalmente nos locais mais solicitados durante a atividade física”, explica Raul Santo de Oliveira, mestre e doutor em Fisiologia do Exercício pela Universidade Federal de São Paulo.
Essa hipótese, dizem alguns especialistas, se aplica a um tipo especial de cãibra, cuja origem estaria no excesso de sudorese. Ela ocorre, diz quem defende a tese, porque o fluido que banha a conexão entre os músculos e o nervo fica pobre em sódio e potássio (perdidos pelo suor), levando o nervo a ficar hipersensível. “Como o movimento é uma reação neural e muscular, com essa falha o sistema de contração e relaxamento muscular torna-se desorganizado”, acrescenta Oliveira. Tratar esse tipo de cãibra seria fácil: bastaria fazer uma reposição dos sais perdidos com bebidas esportivas, além de uma boa sessão de alongamento para “ligar” novamente os músculos e o sistema nervoso.
Há, ainda, uma terceira hipótese, essa pregada pelo pesquisador sul-africano Martin Schwellnus, da Universidade de Cape Town. Depois de estudar triatletas que disputavam o Iroman, ele descobriu que os que sofriam com o problema tinham a mesma concentração de eletrólitos que aqueles que terminavam a competição livres delas, ou seja, a origem não teria nada a ver com a deficiência de sais minerais. Para ele, as cãibras seriam causadas por um descompasso entre os sinais nervosos que excitam as células musculares e aqueles que inibem as contrações. E isso acontece, diz ele, quando o músculo está fatigado. Schwellnus sugere que a maneira de evitá-las seria fazer um exercício leve e rápido, não se esquecer de repor carboidratos (combustível para os músculos) e de alongar os músculos que costumam ser atacados pelas cãibras.