As desvantagens em se consumir açúcar já foram comprovadas pela ciência e, mesmo com todos os avisos dos médicos e nutricionistas sinalizando os perigos do consumo descontrolado desse produto, ainda não conseguimos ficar sem ele. São raras as pessoas que abrem mão da sobremesa sem sofrimento – na verdade, só de pensar em uma guloseima doce, a boca já enche de água. Se você compara essa situação a um vício, saiba que é isso mesmo: a compulsão por açúcar funciona praticamente da mesma forma pela qual os viciados sentem a necessidade de consumir outras substâncias.
Portanto, para a maioria das pessoas, parar de consumir doces não é uma atitude tão simples. “O doce desperta a compulsão porque aumenta a produção de endorfina e serotonina. No entanto, vale lembrar que a compulsão pode ocorrer também com outros alimentos”, explica o nutrólogo Fernando Cerqueira, membro da Sociedade Brasileira para Estudos da Fisiologia (Sobraf).
É vontade ou compulsão?
É necessário diferenciar aquela vontade de doces que se consegue saciar com um pedaço de chocolate ou uma sobremesa pequena da compulsão alimentar. A compulsão é um transtorno alimentar capaz de causar prejuízos à saúde. “Se a pessoa come mais rápido que o normal; come mesmo estando saciada; come escondida dos outros; fica mais introvertida; sente-se triste ou culpada por ter comido e apresenta outros vícios, é hora de buscar ajuda”, diz a psicóloga Renata Borja, especialista em terapia cognitivo-comportamental. Esse comer de forma desmedida ocorre quando quem tem predisposição genética, biológica e/ou psicológica (vulnerabilidade) se expõe ou vive uma situação de estresse. Nesses casos, o acompanhamento multidisciplinar é indispensável.
Por que gostamos tanto de doce?
Os fatores químicos e biológicos da vontade incontrolável por açúcar não surgem do nada: têm origem em hábitos que nos cercam desde a infância. A maioria das crianças experimenta o prazer de saborear um docinho ainda na mamadeira. Logo surgem os achocolatados com seus 75% de açúcar, as balinhas, bolos de aniversário, etc.
Comer doces, seja na infância ou em outras fases da vida, está intimamente ligado a celebrações festivas, a momentos especiais. Não por acaso, uma caixa deliciosa de bombons costuma ser presente de dia dos namorados, de agradecimento ou um agrado em um dia qualquer. O problema é que tudo isso contribui para que nosso cérebro perceba a ingestão de açúcar como algo prazeroso, relacionado a momentos de grande afetividade. É por essas razões que, quando nos sentimos tristes ou temos uma carência afetiva, um doce pode ter o incrível poder de nos acalmar e alegrar.
Quanto mais açúcar… Mais açúcar!
Consumir açúcar excessivamente colabora com o aumento do peso corporal, aumento da resistência à insulina, queda na imunidade e muitos outros problemas. E quanto mais açúcar se consome, mais açúcar é necessário para saciar essa vontade, uma vez que esse excesso vicia também as papilas gustativas, interferindo na percepção de outros sabores e na preferência por alimentos açucarados e industrializados. Assim, quem consome doces em grandes quantidades não percebe realmente o quanto está ingerindo e tem dificuldades para se habituar ao sabor doce natural de determinados alimentos, como sucos de frutas naturais.
Por outro lado, cortar totalmente o açúcar da dieta a fim de controlar a vontade pode não ser a melhor estratégia. “É importante lembrar que os carboidratos viram açúcares, portanto quanto mais privado de carboidratos, mais temos vontade de doce. Tudo moderadamente não apresenta problemas, o excesso que é prejudicial. O organismo precisa de glicose, ou seja, se a pessoa ingerir açúcar às vezes, não vai fazer mal”, pontua o nutrólogo.
O que fazer para controlar a vontade de doce?
Se você já segue um planejamento alimentar elaborado por um profissional, de acordo com as suas necessidades, mas os doces permanecem sendo seu ponto fraco, é possível adotar algumas estratégias para não abusar do açúcar. “Minha dica é apostar no consumo de chocolate amargo em pequena quantidade, a cada três dias”, recomenda Fernando.
Alguns suplementos, desde que recomendados pelos nutricionistas, também podem ajudar a aliviar a vontade de consumir açúcar. “O mais indicado seria o picolinato de cromo, que é uma substância que atua em enzimas ligadas ao metabolismo energético e age diretamente na regulação dos níveis de glicose no sangue. Quando esses níveis estão adequados, a vontade de doce diminui”, explica o especialista.
Doces funcionais, feitos com ingredientes naturais e sem adição de açúcar, também podem ajudar no processo. Já os doces considerados “fit”, industrializados, precisam de atenção. “É importante checar a composição dos mesmos. Se for zero açúcar tudo bem, mas é necessário ver a quantidade de sódio, também”, avisa o nutrólogo.
Exagerar no consumo desses alimentos também não é uma boa opção, já que, mesmo não possuindo açúcar, eles não deixam de conter carboidratos. Além disso, dê preferência a produtos com adoçantes naturais, como estévia e taumatina, uma vez que os edulcorantes artificiais, se consumidos em excesso, podem provocar disfunções no organismo.