Raríssimas são as pessoas que nunca sentiram desconforto ou dor na região lombar. Há mitos que dizem que a lombalgia está ligada à presença de hérnia de disco. Será? Quem responde essa questão é o chefe do Grupo da Coluna da Escola Paulista de Medicina (EPM) da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Renato Hiroshi.
RESPOSTA
Renato respondeu que a dor lombar em si não é justificada somente pela hérnia de disco e que pode ser uma das fases da doença: “O sintoma principal é a dor ciática, aquela ciatalgia. Isso, praticamente, é uma condição sine qua non que confunde muito. E eu volto a falar: por que isso é muito importante? Um diagnóstico errado leva a um tratamento errado. É por isso que essa avaliação clínica muito mais ampla é muito importante para fechar o diagnóstico específico de uma hérnia de disco. Tira aquele termo popular em que todo mundo acha que a dor lombar é hérnia de disco”, pontou.
O quadro Correspondente Médico, da emissora CNN Brasil, divulgou por meio de matéria, em 14 de fevereiro de 2022, que os dados da OMS (Organização Mundial de Saúde) apostam oito em cada dez pessoas no mundo com sofrimento da hérnia de disco.
“Talvez não duvidando do dado da OMS, mas o diagnóstico de hérnia de disco muitas vezes se confunde com o diagnóstico de dor lombar. Esse pensamento é um pensamento um pouco errado. A dor lombar não é justificada por uma hérnia de disco. Eventualmente a estatística que se coloca é um pouco nos pacientes que apresentam dor lombar. Aí sim, é uma coisa bastante prevalente e eu concordo com essa estatística”, disse Hiroshi.
INFLUÊNCIAS
O líder da EPM da Unifesp destacou que alguns fatores pioraram o quadro da dor lombar e levam ao surgimento de hérnia de disco, exemplos: sedentarismo, má postura, falta de exercícios físicos e, em seguida, ausência de ergonomia da maioria dos móveis domésticos em função de adaptações feitas para o exercício do trabalho remoto.
O pesquisador indicou que as dores irradiadas radiculares são um dos principais sintomas da presença da hérnia de disco. “Temos visto nos consultórios de ortopedia de coluna um aumento desses pacientes tanto com a dor radicular [radícula é a dor ciática] como também com a dor lombar”, falou Renato.
A hérnia de disco é comum até mesmo em atletas e pessoas ativas. A atividade física regular é fundamental para que a musculatura de sustentação da coluna evite a sobrecarga dos discos intervertebrais. “Por vezes, você tem aquele paciente que é mais pesado, mas ele é ativo, tem uma atividade física regular e vai criar uma estrutura muscular condizente com o peso. O que não pode acontecer é você ter um paciente sedentário onde, seja ele obeso ou magro, vai ter um desequilíbrio muscular. Ele vai ter com isso sobrecarga em cima da coluna”, advertiu.
Renato Hiroshi também esclareceu que a cirurgia de hérnia de disco é necessária para tratamentos que não surtiram efeito. “A cirurgia é a forma e a etapa do tratamento da hérnia de disco. Porém, ela é reservada em caráter de exceção quando você tem a falha de todos os tratamentos não cirúrgicos, sejam eles fisioterapia, atividade física, pilates, acupuntura e medicação. Quando você esgota todas as opções e não tem esse controle da dor, aí sim você vai pensar no tratamento cirúrgico”, finalizou.