Neymar é notícia por tudo que faz, ou seja, alguns dos seus atos ofuscam até resultados dentro de campo. Tanto é que mais uma prova foi a sua ruptura do ligamento e do menisco na derrota do Brasil por 2 x 0 diante do Uruguai, nessa terça-feira (17), no Centenário. Jogo válido pela quarta rodada das eliminatórias sul-americanas da Copa do Mundo de 2026.
Detalhe que essa lesão impactou no rendimento do Brasil durante esse revés do Clásico del Río Negro. Além das demais convocações do técnico da Seleção Brasileira, Fernando Diniz. E também causou dúvidas até para quem é atleta amador, por exemplo: a lesão do Neymar é comum no futebol?
A lesão do Neymar é comum no futebol
“Sim. É uma lesão comum, representa cerca de 25% de todas as lesões do joelho no futebol. E é uma lesão que acontece com uma incidência de cerca de três lesões a cada mil horas de esportes praticados. Isso acontece pelo próprio gesto esportivo do futebol, que é comum a todos os níveis, que é o drible, a mudança súbita de direção. Que é o movimento de pivô e de rotação do corpo sobre a mudança. Um membro. Isso é um dos principais fatores, que tornam o futebol com maior risco de lesão. Além de ser um esporte de contato”, respondeu em entrevista exclusiva para o Sport Life o ortopedista do Hospital Nipo-Brasileiro Dr. Leonardo Addêo.
Dessa maneira, o “peladeiro” também não escapa desse tipo de dano, isto é, o perfil desse tipo de atleta é o oposto do profissional. Que realiza trabalhos com frequência em academia e de suplementação com nutricionistas, propostas que diminuem as possibilidades de lesões.
“Evidentemente que um atleta de pelada de fim de semana muitas vezes com sobrepeso e sem um gramado na condição ideal acaba tendo um risco um pouco maior de sofrer lesões ligamentares. Como a que o Neymar sofreu”, disse em contato com a reportagem o ortopedista do Hospital São Marcelino Champagnat Dr. Antonio Tomazini.
Quais são as principais formas de prevenção dessa lesão?
Exercícios de preparo feitos em academia e, principalmente, de fortalecimento e alongamento são as principais recomendações. O bom equilíbrio entre os grupos musculares da perna reduz a incidência da chance de lesão do ligamento.
“Um bom condicionamento físico, o uso adequado de calçados para a prática esportiva, a qualidade do campo de futebol. E, obviamente, vamos dizer assim, um bom condicionamento e bom fortalecimento permitem que o atleta tenha uma melhor qualidade de musculatura. Isso é uma forma também de evitar ou dissipar a energia no momento do trauma. Além de uma técnica apurada para o jogo evitando o trauma direto”, discorreu em diálogo com Sport Life o ortopedista Dr. Marcos Cortelazo.
Há restrição de idade para indicação de cirurgia? Qual é o prazo ideal de recuperação?
“A cirurgia tem indicação para qualquer faixa etária ou não. O tempo ideal de recuperação depende de alguns fatores. Que nós utilizamos para dizer se a pessoa tem ou não condição de retornar ao esporte e chamamos de critérios de retorno ao esporte. Critérios bem estabelecidos na literatura e levam em conta não só o tempo da cirurgia, o tempo decorrido após a cirurgia, mas também se a força muscular e a mobilidade da articulação se recuperou. Se o controle neuromuscular do membro foi completamente adquirido, se o paciente está sem dor e se o joelho está estável. Isso ocorre por uma avaliação do próprio médico. Muitas vezes pode ser feita pelo fisioterapeuta, através de exames específicos e testes”, detalhou Addeo.
O papel da fisioterapia no tratamento da ruptura do ligamento e do menisco
O fisioterapeuta pode atuar em etapas, com períodos divididos em inicial e tardia. O início consiste no controle da dor com a recorrência da crioterapia, método executado com gelo e técnicas analgésicas por meio de aparelhos e mobilização precoce do ligamento.
“Ou seja, para começar a ganhar um pouquinho a flexão do joelho de forma suave, dentro da tolerância da dor, um trabalho também de ganho de mobilidade da patela, que vai ficar um pouco aderida nesse tempo, ganho de extensão do joelho para não deixar esse joelho ficar semifletido e sempre em extensão também para não ter problemas no futuro”, complementou em conversa com Sport Life o fisioterapeuta e diretor científico do Instituto RV, Dr. Caio Marengoni.
Além do processo de ativação da musculatura no ciclo inicial, que permitirá ganho de força muscular e estímulos em várias direções, a fase tardia é conhecida pelos exercícios para reequilibrar a musculatura e início de treino com bola.
“Começa a inserir ainda mais os gestos esportivos e para o sexto mês próximo ao retorno ao esporte tem que ter exercícios funcionais, que simulam as situações do cotidiano. É importante antes da alta realizar alguns testes específicos para ter certeza que a articulação e a musculatura estão preparadas para receber a demanda e, também, é muito importante identificar desequilíbrios musculares. Então, ocorrem vários testes em aparelhos de captação de torque, de força para saber se a musculatura dele está equilibrada em relação a outra e também se está apto para receber as demandas do futebol”, comentou Caio.
Importância do aeróbico
Outros acréscimos do Marengoni são as atividades aeróbicas para não haver perda de condicionamento físico, o trabalho da musculatura adjacente e exercícios tanto para o membro superior quanto para o tronco.
“Esses exercícios também devem ser inseridos no dia a dia para que possa manter o que tem. Todos esses objetivos e fases da fisioterapia podem ser realizadas no solo, na clínica, ambiente ambulatorial, na maca, em pé, em uma academia e na hidroterapia. É importante também lembrar que existe o trabalho feito do fisioterapeuta dentro da piscina para reabilitar esse ligamento também e reabilitar da cirurgia da lesão ligamentar”, encerrou o Dr. Caio Marengoni.
Quais são os outros esportes e situações do dia a dia proporcionam esse risco de lesão?
“Pode ser atividades com bola, luta, dança, skate, surf, movimentos em que o paciente vai girar. Então, o pé fica preso na posição do chão, geralmente,o joelho entra pra dentro, chamamos de valgo e a perna roda externa. A maior parte dos atendimentos no nosso consultório acaba sendo de pacientes que fazem esporte, mas também já operamos pacientes que caíram do ônibus, pacientes que foram trocar uma lâmpada, escorregaram do banquinho ou estavam em uma festa e acabaram escorregando”, concluiu o Dr. Antonio Tomazini.