Você treinou para cruzar a linha de chegada. Fez o planejamento correto, mas, mesmo assim, a corrida não foi satisfatória. O tempo não foi bom. Pior: você não completou o percurso. De fraqueza a dor de estômago, pode ocorrer algum imprevisto para detonar a sua expectativa naquela prova dos sonhos. Nessas horas, é normal sentir-se frustrado. O que não pode acontecer é você ficar remoendo em cima disso e não construir um final mais feliz a partir dessa frustração. Selecionamos algumas dicas para que você tire o máximo proveito de uma corrida ruim e vire o jogo.
1.Surpresas desagradáveis acontecem. Você acordou indisposto. Mesmo assim, não fugiu à luta e foi para a prova. No meio da corrida você sentiu náuseas. Persistiu e cruzou a linha de chegada. E o que é melhor: com um bom tempo. Assim como um início ruim pode ter um final feliz, uma largada promissora pode se transformar em decepção. Assim: você se preparou como devia e até os primeiros 5 km seu corpo respondeu bem ao ritmo imposto. Mas, de repente, começou a faltar a gás. E, quase se arrastando, você terminou a prova com um tempo bem aquém do esperado. Ok, isso acontece. “Nem sempre dá para explicar ou prever um dia ruim na corrida. A saída é não esquentar a cabeça e partir para a próxima”, diz Adriano Bastos, corredor, treinador e proprietário da assessoria Adriano Bastos Treinamento Esportivo (SP).
2.Sofra, mas não se mate. Assim que você cruzar a linha de chegada muito tempo depois que seus adversários ou quando interromper sua marcha e ficar pelo caminho, respire fundo e sofra. A volta por cima começa a partir desse sofrimento. Bernardinho, técnico da Seleção Brasileira de Vôlei, costuma dizer que é preciso sentir a derrota para valorizar a vitória e a necessidade de buscá-la. Também ajuda lembrar-se das vitórias nos momentos de fracasso. Isso pode dar ânimo para que você sacuda a poeira e dê a volta por cima.
3.Aceite o conforto dos amigos. Espelhar-se no bom rendimento de seu parceiro de corrida e a sua palavra amiga quando você tiver um dia ruim certamente o ajudarão a se recuperar rapidamente da decepção momentânea. E parabenizar o amigo pela ótima corrida é um ato bacana que sempre traz conforto para quem o pratica.
4.Da próxima vez, você chega lá. Até os corredores mais experientes já se complicaram em uma prova. A volta por cima começa no momento em que você aceita o desafio de se preparar para enfrentar a mesma disputa futuramente. Adriano Bastos, por exemplo, que tem 47 maratonas concluídas satisfatoriamente no currículo, também já foi vencido por alguns percursos. Um dessas provas infelizes na vida do corredor foi em Curitiba, em 2010. Batido pela exaustão, ele abandonou a maratona da cidade. No ano seguinte, porém, estava de volta à mesma prova e concluiu o percurso em 3º lugar.
5.Aceite suas limitações e seja feliz. Se a corrida não lhe dá prazer, é pouco provável que você curta as provas das quais participa. Isso é um erro, pois muito mais gostoso do que cruzar a linha de chegada é cair nos braços da endorfina e sentir-se bem. Se o prazer é algo que deve vir em primeiro lugar, qualquer que seja atividade física, para que sofrer com ela? Se você já tentou correr algumas vezes determinadas provas e não se sentiu bem ou não conseguiu terminá-las, o melhor a fazer é desistir delas. Sem frustração. Aceitar que competições não são para você pode ser até bom para elevar a sua autoestima. É, digamos, um ato de nobreza. “Outra prova que não consegui completar foi a maratona de Foz de Iguaçu. Larguei num ritmo forte e parei depois de 30 km, completamente exausto. Não voltei no ano seguinte, pois é uma prova cheia de subidas e descidas que não caiu no meu gosto”, confessa Adriano.
6.Reflita sobre o que pode melhorar. Em vez de ficar lamentando o fracasso, seja positivo e reflita sobre o que deu errado. As pernas fraquejaram? Faltou gás? Largou rápido demais? Pensando no que poderia fazer diferente, você cria novas estratégias de sucesso e minimiza os riscos de um novo fracasso. Às vezes, basta fazer algo simples, como acrescentar um gel de carboidrato ou mesmo mudar a alimentação na véspera da corrida”, diz Emerson Vilela, corredor, treinador e diretor-técnico da Mevilela Assessoria Esportiva (SP).
7.Dome o seu emocional. Por mais que treine bem e trace a melhor estratégia, você não consegue correr bem. Se isso vem se repetindo várias vezes e gera ansiedade, o seu maior adversário não é o asfalto, mas, sim, você mesmo. Uma dica para vencer a tensão que uma prova pode trazer é não se cobrar demais. Pense que completar um percurso, principalmente o de uma maratona, não é simplesmente um ato de heroísmo. Trata-se de um exercício que ajudará você a se manter saudável. Se mesmo assim você ficar ansioso e não conseguir controlar os nervos, a saída pode ser procurar um terapeuta. “Um psicólogo especializado em treinamento esportivo pode ser de grande ajuda. Não vejo nenhum problema em procurar um quando está provado que você é sempre vencido pela sua cabeça”, diz Adriano.
8.Corra no dia seguinte. Não vai ajudar em nada você “romper” com a corrida por ter realizado uma prova ruim ou procurar outra atividade pelos próximos dias. Foi mal hoje? Corra no dia seguinte. Não precisa ser o mesmo percurso do dia anterior e tampouco um treino desgastante. O ideal é que você corra sem pressão e fique bem. Isso lhe dará ânimo novo. Na pior das hipóteses, vai ajudá-lo a relaxar.
9.Reavalie a sua relação com a corrida. Um dia ruim serve, ao menos, para você refletir sobre o que foi feito. Será que você não está se cobrando exageradamente? Se isso estiver acontecendo, você precisa mudar. “Já fui um corredor muito competitivo, sempre querendo baixar meu tempo. E, mesmo quando fazia uma boa corrida, sempre queria mais. Isso, no entanto, foi me deixando estressado e acabei por parar de correr. Fiquei afastado da corrida por dois anos, pois perdi o prazer”, conta Renato Dutra, corredor, treinador e diretor-técnico da assessoria esportiva Run & Fun (SP). “Quando entendi o que aconteceu e não me cobrei mais, voltei a correr. O segredo, portanto, é correr simplesmente pelo bem-estar que o exercício proporciona.”
10.Pense nos pontos positivos. Você não fez o tempo dos sonhos. Mas conseguiu completar o percurso. Então, apegue-se a isso. Pior seria se você não tivesse finalizado a prova, certo? Caso não tenha finalizado a corrida, pense que da próxima vez vai ser melhor. E tente não criar novas expectativas. Correr pressionado por você mesmo é o primeiro passo para algo dar errado. “Tem corredores que querem completar a maratona em menos de quatro horas. Mas que diferença fará na vida deles se finalizarem o percurso em cinco horas?”, questiona Renato Dutra. “O importante é ter certeza de que correu com vontade e sem sacrifícios.”
11.Parar também faz bem. Se você não estava se sentindo bem e completou a corrida, ponto para você. Se parou pelo mesmo motivo, tenha certeza de que agiu corretamente. Por que se desgastar agora se você pode fazer algo bem melhor depois? Superação é algo bacana, mas tem limites. E bola para frente. Pior seria prejudicar sua saúde para atender ao seu ego de continuar na prova.
12.Trace metas possíveis. Não é porque foi mal em uma prova que está definido o tipo de corredor que você é. Reveja suas metas todas as vezes que não correr como gostaria. Pode ser que você esteja querendo muito em pouco tempo. Lembre-se: ninguém vai correr bem uma maratona ou mesmo uma prova de 10 km sem o mínimo de planejamento. E nunca se esqueça de que há variáveis como calor, indisposição por conta de algum alimento que não lhe caiu bem ou uma queda que podem atrapalhar o seu rendimento. Caso assimile essa lição, fica mais fácil aceitar um eventual fracasso.
13.Divida suas dúvidas e frustrações. Apesar de todo planejamento, você não correu bem. Fique sabendo que isso é mais corriqueiro do que você imagina. Se você não conseguiu decifrar o que saiu errado, procure ajuda de um especialista. “Os treinadores e assessorias esportivas existem pra isso: tentar ajudar corredores a contornar eventuais problemas e correr de modo satisfatório”, diz Emerson Vilela.
14.Não se cobre pelo que você não pode prever (ou mudar). Na Olimpíada de Atenas (2004), o brasileiro Vanderlei Cordeiro liderava a prova até 36º quilômetro, quando foi atacado por um fanático religioso irlandês. Perdeu fôlego, tempo e concentração. Mesmo assim, continuou a prova e cruzou a linha de chegada em 3º lugar, ganhando a medalha de bronze e sendo mais aplaudido que o vencedor, o italiano Stefano Baldini. Mais: além do bronze, Cordeiro ganhou a medalha Pierre de Coubertin, concedida a atletas que valorizam mais o esporte do que a vitória. Se você não faz um bom tempo ou não completa a prova por conta de algum imprevisto, mire-se no exemplo do maratonista brasileiro e siga em frente. Isso, aliás, vale para qualquer coisa que você faça na vida.