A prática de beliscar comida diversas vezes ao longo do dia, mesmo sem fome, é conhecida como grazing – muito semelhante à compulsão alimentar. O conceito foi tema de um estudo de doutorado defendido na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, pela psicóloga Marília Consolini Teodoro.
Em seu trabalho, a psicóloga mostrou a importância da regulação emocional para prevenir a manifestação desse tipo de comportamento, que está associado a problemas psicológicos e alimentares.
Grazing é uma doença?
De acordo com a pesquisadora, não se trata de um comportamento problemático ou associado a alguma psicopatologia – ao menos não num primeiro momento. Marília explica que o grazing, com o passar do tempo, pode aumentar a probabilidade de surgimento de uma patologia do comportamento alimentar.
Esse é o caso da compulsão alimentar, caracterizada por comer em grandes quantidades, de forma rápida e até escondido, mesmo sem fome. A depender do caso de compulsão, pode se tratar de um transtorno. “Pode acontecer de, em momentos específicos, existirem exageros alimentares de forma descontrolada, mas que por si só não configuram um quadro clínico. Essa diferenciação é importante porque esse sintoma tem critérios de diagnósticos bem estabelecidos”, explica o médico especialista em medicina esportiva e emagrecimento Dr. Walid Nabil Ourabi.
A psicóloga explica em seu trabalho que condições como o grazing (e a própria compulsão) muitas vezes não são consideradas um transtorno mental, mas estão diretamente ligadas a questões psicológicas.
O Dr. Walid comenta que esses comportamentos atuam como um escape para transtornos psicológicos, mas muitas vezes podem não funcionar. “Quando o episódio [de compulsão] se conclui com a sensação de fracasso, de remorso, incapacidade e descontrole gera um ciclo muito ruim que pode acabar no abalo emocional, quando termina o episódio e a ansiedade não diminuiu com o alimento”, exemplifica
Quando o comportamento ainda não é prejudicial
No estudo realizado pela USP, o grazing foi dividido em dois grupos de comportamentos distintos: grazing repetitivo, que ocorre de forma contínua, porém mais leve, menos prejudicial e menos associado à perda de controle; e o grazing compulsivo, mais associado à perda de controle e a sintomas psicológicos.
Assim também é com a compulsão. Walid destaca que é importante levar em consideração se o descontrole acontecer mais de uma vez por semana em um intervalo de três meses – a partir desse momento, a compulsão pode vir a ser tratada como patologia.
Fonte: Jornal da USP.