Texto e foto por: Amanda Preto
Ao conversarmos com alguns corredores no momento pré-prova, muita alegria e vontade de encontrar seus próprios limites superados na linha de chegada, a 42K de onde estávamos. Para muitos, era a primeira maratona da vida. Como não ficar ansioso diante de um desafio sem rosto? Tudo parecia conspirar contra o entusiasmo dos 300 guerreiros. Desde a largada, o vento não estava de brincadeira, tampouco a chuva, que chicoteava o rosto de todo mundo. Ao olhar para o céu preto, estava confirmado que aquela manhã não seria nada fácil. “Tô bem tranquilo para fazer essa maratona. Só neste ano, já participei de 20 provas”, conta o ultramaratonista Leandro Carvalho, com o semblante feliz como o de quem vai para uma festa.
Dada a largada, o humor negro tomava conta ao som de Highway to Hell. Como não rir do inesperado? O jeito era seguir em frente e cantar pra subir – literalmente. O percurso começava em uma altitude de 154 m e terminava nos 1419 m. Durante o trajeto, muitos seguiam focados no seu tempo, na sua capacidade de manter o fôlego com um ar que se tornava cada vez mais rarefeito. O preferido para ganhar essa parada era Clayton Conservani, jornalista da rede Globo conhecido pelas suas aventuras extremas no mundo do esporte. Mas o inesperado aconteceu. Dois atletas disputaram durante toda a prova o primeiro lugar: Gabriel Picarelli e Roberto Tadao, que se mantiveram quase equiparados. Em um momento, apenas 40s separavam Gabriel de Roberto.
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Na van, acompanhamos o progresso de todos os corredores. Foi um caminho e tanto, pois olhávamos o esforço de todos que estavam lá e queríamos que no pódio coubesse aquela horda inteira. Ao chegarmos à reta final antes dos vencedores, avistamos um vulto se aproximando. Era Roberto Tadao, que ultrapassou Gabriel Picarelli entre os km 30 e 32 da prova. “Me preparei muito para esta prova. Ontem (no dia anterior à prova) vim conhecer o que me esperava. Acho que isso ajudou muito”, conta Tadao, que bateu o recorde do primeiro lugar do ano passado, Leonardo Maciel – 3:13:30 contra 3:31:31.
Não demorou um minuto e lá estava o Picarelli cruzando a linha de chegada. Sorriso no rosto, sinal de gratidão por tudo ter dado certo apesar das cãibras, que fizeram o atleta ser ultrapassado por Tadao. “Estou muito feliz com o meu resultado, essa foi uma das provas de asfalto mais desafiadoras para mim. Algumas curvas foram bem complicadas: eram estreitas e a chuva exigiu muita cautela”, explica o atleta, que completou a prova em 3:14:28.
Sem dúvida, a corrida é uma virtude meio viciante que faz muita gente voltar a enxergar o sentido da vida. Cleber Castilhano, o terceiro colocado masculino da Uphill, que o diga. Há seis anos, Cleber lutava contra as drogas, que dominaram por muito tempo a sua liberdade. “É uma emoção cruzar essa linha de chegada e lembrar de tudo o que eu passei. A corrida é a minha vida, eu saí de um vício para entrar em outro”, conta, com lágrimas nos olhos. Com o passar do tempo, os outros competidores foram chegando: de abraços apertados a pedidos de casamento, esse foi o cenário da Uphill deste ano: a certeza de que lá na linha de chegada o encontro com a sua conquista é garantido.
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