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A retomada das atividades físicas após o Covid-19

De forma gradual e com acompanhamento, é possível retomar aos exercícios melhorando a saúde e a qualidade de vida após o Covid-19

A retomada das atividades físicas após o Covid-19
Foto: Shutterstock

Apesar de ser uma doença respiratória, as sequelas provocadas pela Covid-19 e já registradas são variadas. O que se sabe é que, independentemente da gravidade do quadro e da pessoa ter ou não apresentado sintomas, os prejuízos podem surgir e afetam muito mais do que o pulmão. Já foram relatados problemas de memória, de visão, trombose, doenças de pele e prejuízos em órgão como os rins, por exemplo.

Levantamentos ao redor do mundo calculam que até 16% dos pacientes apresentam algum tipo de complicação cardíaca até mesmo nos quadros mais leves. Segundo um estudo publicado por pesquisadores das universidades de Oxford e Sheffield, no Reino Unido, o Sars-CoV-2, nome do novo coronavírus, pode provocar sequelas no pulmão por mais de três meses após a infecção.

Essa sequelas não aparecem em exames convencionais de imagem, por isso os pesquisadores utilizaram gás xenônio durante a ressonância magnética para avaliar dez pacientes entre 19 e 69 anos. Oito desses pacientes relataram falta de ar e fadiga três meses após terem adoecido e os exames mostraram sinais de danos pulmonares.

Por essas consequências, é natural e recomendado que os pacientes que se recuperaram da doença voltem à rotina aos poucos, de forma cuidadosa, incluindo a prática de atividade física, tão importante para a prevenção de inúmeras doenças. Pensando nisso, entidades brasileiras emitiram um posicionamento com orientações para o retorno à prática de exercícios físicos e esportes, organizado pela Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte (SBMEE) e pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). O documento recomenda que a possibilidade de comprometimento cardíaco como sequela da Covid-19 seja considerada e investigada antes do retorno à prática esportiva.

Segundo um estudo publicado por pesquisadores das universidades de Oxford e Sheffield, no Reino Unido, o Sars-CoV-2, nome do novo coronavírus, pode provocar sequelas no pulmão por mais de três meses após a infecção.

Volta monitorada

O documento elaborado pelas entidades indica ainda a necessidade de todas as pessoas que tiveram Covid-19, assintomáticas ou não, passem por avaliação médica para avaliar especialmente o funcionamento do coração, antes de iniciar ou retomar a prática de atividade física. Os tipos de exames serão prescritos pelo médico de acordo com a gravidade dos sintomas.

Baseado nesses exames, o médico em parceria com um profissional de educação física poderá orientar cada indivíduo sobre a melhor forma de voltar a se exercitar. “A realização de exercícios de maneira supervisionada é fundamental à fase de recuperação. A Covid-19 é, na verdade, uma síndrome inflamatória sistêmica, que cursa não somente com lesões pulmonares, mas também com acometimento de outros órgãos e sistemas, como o cardiovascular, neurológico, digestório e locomotor. Há, para além da lesão pulmonar, risco de acometimento e sequelas cardiológicas, tromboses pulmonares e cerebrais e um processo catabólico que pode ser extremamente significativo. Desta maneira, em casos de Covid-19 moderados a graves, o retorno à atividade física deve ser lento, progressivo e indicado por médico responsável”, salienta o pneumologista Ricardo Beneti, professor doutor da Faculdade de Medicina da Unoeste (Universidade do Oeste Paulista).

“A abordagem multiprofissional é fundamental! Não é simplesmente um acompanhamento médico: a retomada da atividade física supervisionada, aliada ao suporte nutricional e psicológico são importantíssimos para que possamos atingir a mais completa (e rápida) recuperação possível”, conta Ricardo Beneti, médico pneumologista.

Ricardo explica que os exercícios aeróbicos são fundamentais nessa fase de recuperação e devem ser planejados de maneira individual. É importante, também, dar ênfase à recuperação de massa musculoesqulética com trabalho específico e suporte nutricional. Ou seja: a volta aos exercícios após a Covid-19 demanda um acompanhamento multidisciplinar, em especial os pacientes que tiveram sintomas moderados a graves e precisaram ficar internados, já que os dias dentro de um hospital podem reduzir significativamente a massa muscular e a força. Sem o devido acompanhamento e caso o exercício seja realizado de maneira desproporcionada ou não planejada, há risco de lesão orgânica sistêmica (cardíaca ou muscular, por exemplo) e até risco de eventual episódio de insuficiência respiratória aguda, caracterizada pela falta de ar intensa acompanhada de queda da oxigenação do corpo.

Fundamental na recuperação e na prevenção

As lesões pulmonares causadas pelo coronavírus podem ser graves e irreversíveis, porém um planejamento adequado de exercícios físicos e nutrição é capaz de minimizar esse impacto, melhorando a qualidade de vida dos pacientes. “O pulmão é um órgão elástico e complacente e essas características são fundamentais para que haja o adequado preenchimento dos espaços aéreos no ato respiratório. Em processos inflamatórios e/ou infecciosos pulmonares ocorre, a posteriori, um processo de reparo, no qual o tecido elástico tende a ser substituído por um tecido fibroso. Estas ditas ‘sequelas’ ocorrem em variados graus em diversas patologias pulmonares, e infelizmente, não é diferente na Covid-19”, explica o pneumologista.

Os exercícios bem orientados são capazes, também, de aumentar as chances de recuperação em caso de infecção. Assim, se você não foi teve o resultado do exame positivo, o melhor é continuar com o programa de atividades físicas e manter seu condicionamento. “No entanto, sabemos que existem situações enzimáticas (genéticas) que expõem indivíduos a um maior risco na interação entre o hospedeiro infectado e o vírus; boa parte do dano sistêmico causado pela Covid-19 advém dessa interação e dos processos do próprio organismo – tentando reagir à infecção viral. Dessa maneira, apesar do bom condicionamento físico ser importante à saúde como um todo, reduzindo o risco de doenças de uma maneira geral, e de fornecer uma
maior capacidade de resposta em caso de infecção, ele não guarda exatamente correlação com a sequela posterior da infecção grave, caso ela ocorra”, acrescenta Ricardo.

A conclusão é: movimentar-se não é garantia de não ter um quadro grave da doença, mas pode prevenir diversos outros problemas que vão agir como fator agravante. Por via das dúvidas, quanto mais métodos de prevenção disponíveis, melhor, certo?

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