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Mozart 100: uma ultramaratona nada mole

Saiba como foi a quarta edição dessa prova para o ultramaratonista Marcos Gagliardi, único brasileiro que esteve por lá

Marcos em um dos momentos mais árduos da prova: frio cortante obrigou o corredor a improvisar uma proteção térmica com plástico/Foto: Arquivo pessoal e Sportograf

Depoimento para Amanda Preto

Salzburg é uma cidade bela, permeada de história e cultura, com paisagens que enchem os olhos de qualquer turista. Ela foi palco da ultramaratona Mozart 100, uma das mais difíceis que já participei. A prova conta com várias distâncias, sendo duas ultramaratonas: uma de 56,2 km e outra de 102 km; e também percursos mais curtos, de 11,5 km e 25,6 km.

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Mozart 100

A Mozart 100 aconteceu no final de junho em Salzburg, na Áustria/Foto: Arquivo pessoal e Sportograf

Topei o desafio de cavalgar com meus pés os 56,2km. Para isso, treinei com afinco de janeiro a março. Chegado o dia – tempo chuvoso a 10 graus de temperatura – lá estava eu, pronto para mais um desafio. Os primeiros 5km foram planos e em asfalto margeando o rio. Logo começaram as subidas e, nesse momento, o frio era tão intenso que não conseguia me esquentar, mesmo mantendo um pace de 5min30s/km. O frio estava severo e aumentava a cada subida. A partir daí, atravessamos rios, correntezas fortes e trilhas. Meus braços já reclamavam do frio, mas estava suportando bem.

Cheguei a um dos vários pontos de apoio a partir do km 15. Abro um parênteses aqui para dizer que o abastecimento estava à altura da prova, assim como a organização. Peguei um plástico e coloquei nos braços e mãos para me proteger do frio, o que aliviou muito. Quando achei que estava tudo bem, veio a temida The Climb. Atravessamos uma estrada, pensei que era para correr por ela, mas os guias me orientaram a entrar em uma trilha que dava para um trecho de escalada.

 Marcos em um dos momentos mais árduos da prova: frio cortante obrigou o corredor a improvisar uma proteção térmica com plástico/Foto: Arquivo pessoal e Sportograf

Marcos em um dos momentos mais árduos da prova: frio cortante obrigou o corredor a improvisar uma proteção térmica com plástico/Foto: Arquivo pessoal e Sportograf

Iniciei bem essa etapa correndo com cuidado. Chegando ao final da grande montanha, voltou a chover e o frio persistia. Estava confiante, mas ainda no km 18. Após uma grande descida cheguei à região dos vales e entramos em um parque que margeava a costa oriental no Lago Fuschl. Nesse trecho o sol saiu e temperatura chegou a uns 12 graus, o que me permitiu aumentar meu pace e mantê-lo nos 5:40 min/km. Passado o km 25, fomos recebidos com muitos aplausos e parei para me abastecer. A essa altura, alguns corredores já tinham desistido. Encorajado, continuei rumo ao The Wall, subidas muito inclinadas que variam entre 300 e 900 m. Vieram alguns vales, descidas, e mais dois “The wall”, que subi muito bem.

The Lake e a linha de chegada

Mozart 100

Momento pós-prova e sensação de dever cumprido: Marcos com mais uma medalha para o rol de conquistas/Foto: Arquivo pessoal

Entramos em um parque com piso de terra margeando o lago, percurso muito bom para correr. Mas lá pelo km 45, tudo começa a ficar mais difícil… Descemos algumas escadas, casas históricas pelo caminho, igrejas lindas. Quando chegamos no asfalto, fiquei feliz por acreditar que estava acabando. Afinal, km 56… Ledo engano! Neste trecho, que margeava os canais de Salzburg, chegamos a um parque, logo com uma subida de uns 300m e uma escada de 150 degraus. Ao chegar no alto dela, uma descida de 400m e mais 100 degraus para descer.

Saindo do parque, passei por mais um canal e cheguei à região do centro. Mais 2km e pronto, missão cumprida. Dei um gás, imprimindo um ritmo mais forte e finalmente cheguei ao momento mais emocionante dessa etapa: a linha de chegada. Quanto à minha colocação, fui o número 34, completando o percurso de 56,2 km em 7h7min44s. A maior satisfação é ouvir o locutor dizer o seu nome e de onde você é, pois eu era o único brasileiro que estava lá!

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