Há 7 anos, a vida de Milena Preter era bem diferente do que é hoje: na época, aos 28 anos, treinava pesado para participar de campeonatos fitness e trabalhava em um escritório. “Eu sempre adorei educação física e era louca para fazer uma graduação da modalidade. Era muito regrada para manter meu corpo superforte. Mas nunca tinha subido em uma esteira para correr”, conta. Apesar da disciplina, não estava feliz no trabalho e enfrentava dificuldades na vida pessoal. “Saí do emprego, fiquei sem grana, estava me separando, tudo acontecendo ao mesmo tempo”, relembra. Sua mãe, que sempre correu e participou de provas, incentivou a filha com um par de tênis e um convite para correr. “A partir daí, decidi dar uma virada na minha vida. Comecei a trabalhar em uma academia em período integral. Olhava para a sala de musculação e a vontade de atuar como professora só crescia”, Seis meses depois, entrou para a sonhada graduação na área de educação física. Em paralelo, treinava com o suporte de uma assessoria esportiva nas brechas entre o trabalho e a faculdade. Como o tempo era curto, só conseguia correr na esteira. E começou a gostar de verdade da corrida, lhe rendendo ótimos tempos em provas.
O primeiro pódio foi inusitado: uma amiga lhe deu uma inscrição para um prova de 8 km, já que havia adoecido e não poderia participar. “Ao final da prova, achei estranho todo mundo me aplaudindo. Quando me dei conta, havia chegado em quarto lugar. Fiquei sem reação e liguei para meu treinador na hora contando a novidade”, conta. Só que tinha um problema: a inscrição estava no nome da amiga! “Tive que ir embora porque não poderia receber o prêmio no nome de outra pessoa. Era algo que eu não tinha a mínima noção e que me deixou frustrada na hora, mas ao mesmo tempo motivada para pegar um pódio no meu nome”. A partir daí, fazia tempos excelentes nas provas (seu tempo médio nos 10 km era de 42min05s) das quais participava, mas só passava perto do pódio. Depois de um tempo na linha dos 10 km, começou a vislumbrar uma meia maratona e não obstante, queria ser parte elite B, que precisava de um tempo médio de 1h45min para tal. “Estreei em uma meia maratona no Rio de Janeiro visando esse tempo e consegui. Descobri, então, que os 21 km eram a minha distância, porque eu demorava para entrar no embalo nos 10 km”, conta.
Mais conquistas vieram depois da estreia: Milena se destacou nas meia maratonas de um circuito famoso de corridas, na época a Golden Four da ASICS (agora Golden Run). “Virei um dos rostos do circuito e fiquei bastante conhecida, o que trazia uma grande responsabilidade sobre meus ombros. Existia aquele desafio de me destacar sempre nas provas. Tive momentos de tensão e quase ‘amarelei’ na etapa do Rio de Janeiro porque fiquei doente. Mas consegui superar todas as barreiras que me apareceram”, diz. A etapa mais assustadora foi a de São Paulo. “Era a mais concorrida do circuito, tinha muita gente boa e eu fiquei intimidada. Mesmo assim, corri abaixo de 1h34min”, lembra.
O momento da reviravolta
Tudo ia bem na vida de Milena: o trabalho na academia incentivava nos estudos, e o reconhecimento como atleta, mais ainda. Foi aí que novamente a vida da corredora passou por uma turbulência, o que fez com que ela abrisse mão dos treinos temporariamente. Nessa fase, ganhou peso e todo mundo comentava. Embora não estivesse bem, afirma que não se importava com as críticas. “Eu estava respeitando meu momento e voltaria na melhor hora. E foi exatamente o que fiz”, explica. Procurou por uma prova que aconteceria perto do seu aniversário, fez a inscrição em um revezamento de 21 km e chamou uma de suas amigas para participar. “Chegamos em primeiro lugar e um prêmio de R$ 3 mil”, relembra. Milena estava de volta e dessa vez era pra valer.
O início de uma nova carreira
Ao final da faculdade, estava tudo certo para Milena trabalhar como treinadora na assessoria esportiva onde treinava e estagiava. Então, uma amiga que fazia parte do Nike+ Run Club (clube de corrida de rua da Nike que é aberto ao público) a indicou para entrevista para a vaga de coach do clube. Decidiu abraçar a oportunidade e foi aprovada no processo. “Tinha acabado de pegar o diploma e já estava no trabalho dos sonhos com uma das maiores marcas esportivas do mundo. Fiquei nas nuvens”, conta. Mas o maior desafio foi durante a Nike Women Victory Tour, evento que aconteceu no Rio de Janeiro em 2016 só para mulheres, com meia maratona e aulão do Nike+ Training Club. Milena, que sempre teve medo de falar em público, venceu a barreira ao motivar a mulherada. “Foi libertador e maravilhoso motivá-las do palco e durante a prova, dando a mão para cada uma delas na linha de chegada depois de um percurso doloroso e difícil”, recorda. A partir daí, a projeção como treinadora se elevou à milésima potência.
A primeira maratona
A convite da Nike, Milena foi para a maratona de Chicago. Era chegada a hora de estrear como maratonista e havia recebido a proposta dois meses antes do grande dia. “Não tinha tempo para treinar, porque também trabalhava como personal trainer e no NRC. Segui, então, a estratégia de sempre, com treinos e longões pontuais. Se não dava para treinar, descansava. Junto com meu treinador San Palma da CMTeam e meu fisioterapeuta, o David Homsi, fizemos um plano para a maratona. Eles me ensinaram demais e foram essenciais para a minha conquista”, relata.
Milena correu toda a maratona em fartlek, controlando a percepção de esforço em todo o percurso. “O treinamento foi duro, sentia dores. Mas não senti nada durante a prova. Corri curtindo a torcida, a paisagem e sem ficar olhando o pace no relógio. Peguei minha medalha feliz da vida, com um tempo de 3h21min”, relembra. Segundo Milena, o grande segredo para ter ido bem na prova foi ter esperado o tempo certo para fazer uma maratona. Ela aconselha que é preciso conhecer bastante o corpo, seus limites e prestar atenção a todos os sinais que ele dá. Além, claro, de um treinamento aliado a alimentação e prevenção orientada por profissionais.
Passada a estreia, retomou a antiga meta de ganhar um pódio na prova de 10 km a qual sempre passava raspando. “Cinco anos depois, fiz a lição de casa que não consegui terminar. Pódio em uma das etapas da Track&Field, em quarto lugar”, conta, satisfeita. Agora, vislumbra outro objetivo que precisa definir: participar da maratona de Berlim, que acontece em setembro deste ano. “Estou inscrita, mas ainda decidindo se irei correr a prova. Minha prioridade agora é ser a melhor treinadora do mundo (ela também dá aulas no Just Run Club, estúdio de corrida recém-inaugurado na Vila Olímpia, em São Paulo). Mas se eu for, pode ter certeza de que farei tudo certo para ir bem e curtir a experiência”.
O dia a dia
Para manter o corpo saudável e forte para suportar a rotina de trabalho e treino, Milena conta com ajuda do nutricionista Marco Jafet, que elabora um cardápio com alimentos e suplementos voltados às suas necessidades. “Como tenho uma vida agitada, sempre fico cansada. Então o Jafet me ensinou a incluir ingredientes simples de consumir e que me dão pique”, explica. Arroz integral, frango, batata-doce, legumes, omelete, peixes e muita salada não podem faltar nas refeições principais que ela mesma prepara. “Para o café da manhã e lanchinhos intermediários, gosto de tapioca, uma fruta amassada com whey protein e aveia ou uma panqueca de banana que sempre levo na marmitinha, superfácil de fazer: é só misturar uma clara de ovo com uma colher de aveia, uma banana amassada, canela e levar à frigideira. Passo geleia ou pasta de amendoim por cima”, ensina.
No dia a dia, mantém a alimentação regrada e se permite comer o que gosta de vez em quando. “Eu não abro mão de tomar um drinque com as amigas de vez em quando e não fico encanada com isso. Durante a semana compenso com os treinos e com o trabalho”, finaliza.
VEJA TAMBÉM:
Calistenia: a nova era do fitness no Brasil
Girls On The Route: A corrida das mulheres
5 benefícios da aveia para a saúde do corredor