Elas têm histórias diferentes, cada uma com suas dores e alegrias. Apesar da rotina atribulada, acordam cedo todos os dias para treinar. Muitas vezes, abrem mão de momentos com família e amigos para vivenciar um sonho que tem um sabor diferente dos demais. Correr ultramaratonas, que, segundo algumas delas, oferecem força e liberdade que poucas situações são capazes de proporcionar.
O número de mulheres que está quebrando a barreira da zona de conforto é impressionante. Apesar de não existirem pesquisas ou dados que comprovem o aumento de corredoras indo além dos 42 km, basta participar de algumas provas de montanha para se certificar de que elas estão em desafios que deixam muitos corredores experientes no chinelo.
Ao longo dos próximos dias, vamos mostrar a história de 10 atletas que superaram seus limites e venceram as trilhas e montanhas.
Dando início a nossa série, você conhece Rosália Camargo, de 37 anos. Arquiteta, mora no Rio de Janeiro (RJ), já correu 38 ultramaratonas e não pensa em parar.
“Sempre fui apaixonada por esportes desde pequena. Eu velejava e competia de windsurf e, quando não tinha vento, gostava de correr para gastar a energia. Com o tempo, acabei gostando mais de correr do que de velejar, já que podia praticar quando e onde quisesse. Parti então para as maratonas de rua e depois para o Ironman. Em 2010 descobri o trail run, e depois da minha primeira prova, nunca mais me afastei dessa modalidade.
Lembro-me de minha primeira prova importante. El Cruce de Los Andes, na Argentina, em 2012, em que tive a sorte de ser a dupla da experiente Cris Carvalho. Eu estava supernervosa, e foi um desafio conseguir absorver tanta informação durante aqueles três dias de competição… Como grande incentivador, meu marido me deu de presente de Natal uma ultra na Ilha da Madeira. Também em 2012, com um percurso de 100 km e bastante variação de altitude. Nós treinamos muito, e posso afirmar que minha vitória só foi possível graças a ele, que sempre me incentivou a batalhar e lutar pelos meus sonhos.
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Corri 38 ultras desde então, em vulcões no Chile, na Argentina, em uma ilha com areia negra na Espanha, por três países em uma única prova que durou mais de 35 h ao redor do famoso Mont Blanc… Já passei até por tribos indígenas e fui chamada de kirimbaua! Gostei de todas e, vencendo ou não, cada uma teve uma história especial. Se tivesse que escolher uma única, eu diria que foi o XCRUN Búzios de 2010, em que pela primeira vez fui campeã. Eu transbordava de felicidade… E assim que cruzei a linha de chegada, voltei para a prova porque precisava contar que eu era campeã para meu marido, que ainda estava correndo!
Já que moro em zona urbana, tive que aprender a adaptar minha rotina. Comecei a me deslocar correndo para o escritório. Já são seis anos desde que vendi o carro e passei a fazer tudo correndo. Carrego uma mochila com minha roupa e tomo banho no escritório. Sou arquiteta e trabalho o dia todo, e essa foi a melhor maneira que encontrei para fazer o volume necessário para as ultramaratonas.”
Texto e Pesquisa: Amanda Preto e Gabriel Gameiro | Edição: Victor Moura