Dia desses eu estava conversando com um amigo, engenheiro químico que fornece remédios controlados para a indústria farmacêutica. Acabamos discutindo sobre um medicamento altamente controlado pelo Ministério da Saúde, o ópio a 4%. Afinal, ele tem o poder de viciar qualquer um com uma dose ínfima, portanto, seu uso só é liberado para pacientes em estágio terminal de câncer, e justamente para aliviar as dores insuportáveis oriundas dessa doença.
E o que isso tem a ver com o triatlo? Meu raciocínio é simples: observe os triatletas, que acordam às quatro da manhã e, às cinco, já estão em cima de uma bike, pedalando. Tem que ser muito viciado para ter coragem de sair da cama tão cedo, muitas vezes no frio e, às vezes, na chuva. Sem esquecer que os exercícios liberam substâncias que nos causam bem, por exemplo, a endorfina, o corpo libera um arsenal de peptídeos opióides endógenos. Em outras palavras: temos a capacidade de produzir nosso próprio ópio.
Basicamente, há duas formas de estimular a liberação dos opióides pelo nosso organismo: por meio de exercícios extremamente intensos ou prolongados. E há maneiras de combinar os dois, e as doses de endorfina serão ainda maiores. É aí que entra o “barato” do triatlo. Muito se fala a respeito do “barato do corredor”, mas os triatletas são mestres em liberar esses opióides. Isso quer dizer que não somos viciados em exercício. Na verdade, acabamos ficando dependentes dos opióides liberados pelo esforço prolongado. Ainda bem! Não fossem as endorfinas, a grande maioria não praticaria atividade física.
O triatlo é uma excelente oportunidade de tornar-se um “viciado”. Há alguma vantagem em desenvolver esse tipo de vício? Posso citar algumas, como o emagrecimento (devido ao seu elevado gasto calórico), motivação pela variação das atividades durante a semana e os benefícios para a saúde que todos já conhecem (diminuição dos fatores de risco, melhora da disposição, humor, sono etc). Em resumo: a prática de nadar, pedalar e correr em sequência apresenta- se como um estilo de vida saudável, ainda que altamente viciante.