Nadar, pedalar e correr, para quem busca melhorar o condicionamento físico, são modalidades esportivas muito benéficas e prazerosas. Clubes, academias e condomínios, na sua grande maioria, oferecem hoje em dia, espaços e estruturas que permitem praticar os três esportes em um único local (espaço físico) de fácil acesso, seguro, controlado e previsível. Basta um pouco de vontade, dedicação e disciplina que rapidamente se consegue ganhos significativos de condicionamento físico. Mas o triathlon, por sua vez, aguça a veia competitiva dos seus praticantes. Treinar bem torna-se necessário, o que nem sempre é uma tarefa fácil para quem vive no caos das grandes metrópoles. Nesse sentido, o treino de triathlon indoor também acaba sendo uma boa alternativa, principalmente durante a semana.
Porém, quando o objetivo é melhorar o desempenho, esse recurso (o treino de triathlon indoor) deve ser encarado mais como uma opção do que como a principal estratégia de treino. E para que vocês entendam melhor o porquê dessa afirmação , vejam os principais prós e contras do treinamento de triathlon indoor:
Natação (em piscina)
Prós:
– É mais fácil trabalhar a técnica;
– É mais fácil aferir ou prescrever um treino pela metragem;
– Não tem correnteza e nem ondas o que dá mais tranqüilidade para os atletas treinarem, principalmente os iniciantes;
– A água é clara, límpida, sem correnteza, o que melhora a visão, o senso de direção e de localização do atleta enquanto nada;
– Na maioria das vezes, sempre tem alguma parte da piscina onde o atleta consegue ficar de pé, caso se canse muito ou não se sinta bem;
Contras:
– O atleta não vivencia a entrada e a saída do mar, o “passar a arrebentação”, sair “pegando jacaré”, sair “golfinhando”, que são técnicas importantes a serem aprendidas para quem irá participar de provas no mar;
– O atleta, às vezes, se sente inseguro ao ter que nadar em águas turvas ou escuras pelo fato de não ver o fundo e não enxergar bem ao redor;
– Consequentemente, não podendo “ficar de pé” o atleta fica com receio (e às vezes medo) de nadar em águas abertas;
– O atleta acaba não vivenciando como é nadar contra ou a favor da correnteza;
– A questão da localização, entrar e sair do mar chegando no mesmo ponto. O atleta não tem como treinar isso quando nada somente em piscina;
– A água do mar, por ser mais densa, exige mais “força”, exige uma braçada mais firme e eficiente, o que acaba desgastando mais (muscular) e deixando o atleta mais cansado.
Vale lembrar todos triatletas treinam natação, na maior parte das vezes, em piscina. O que não pode faltar na preparação são os treinos e/ou simulados em águas abertas, tais como represa e mar, para que o atleta se familiarize com esses ambientes e ganhe mais experiência e confiança para as futuras competições.
Ciclismo (Bike ergométrica, ou de spinning, ou rolo)
Prós:
– Torna-se mais fácil trabalhar a técnica da pedalada;
– É mais fácil manter as intensidades propostas para cada sessão de treino (watts e/ou frequência cardíaca);
– Não sofre influência do clima, como frio, chuva, calor extremo;
– Minimiza o risco de acidentes e de lesões decorrentes das quedas;
– Por não ter a inércia à favor, treinar indoor obriga o atleta pedalar cerca de 20% a mais quando comparado à mesma distância ou tempo outdoor.
Contras
– Fazer curvas em alta ou baixa velocidade, bem como técnicas de frangem para entrada de curvas e aceleração para saída de curvas não são possíveis no treino indoor;
– O atleta não vivencia situações de vento contra e vento à favor, tão comum durante os treinos outdoor e competições;
– Técnicas de subida nos mais diversos graus de inclinação e distância também ficam defasados quando o atleta pedala indoor;
– Nem sempre as bikes ergométricas ou de spinning possuem equipamento (ciclocomputador) para aferir dados como distância, velocidade, rpm, etc;
– Pedalar indoor tende a ser bem desgastante, pois aumenta muito a temperatura corporal e, consequentemente, a sudorese; o pedalar em pelotão fazendo o rodízio entre os ciclistas (conhecido como rendez vous) também fica impossível simular durante o treino indoor.
Corrida (Esteira)
Prós:
– Similar à bike, correr em esteira é possível em dias de sol, de chuva, de frio, ou seja, todo dia é dia de treino, independente do clima que esteja lá fora;
– Correr em esteira é bem mais estável, pois a superfície é plana, sem buracos, saliências e desníveis, o que minimiza o risco de quedas e lesões em geral;
– Trabalhar a técnica da corrida, melhorar a técnica da passada e da pisada, é muito mais fácil correndo em esteira. O atleta pode ser observado por um treinador, ou se observar através de um espelho, ou até mesmo se filmar para posterior observação e análise;
– Treinar num determinado ritmo também é mais fácil em esteira pois a velocidade é constante, o que faz com que o atleta se preocupe somente em correr;
– O treino em esteira também é um treino de paciência, um treino para a mente, pois para fazer rodagens mais longas ou intervalados intensos num ambiente fechado o atleta precisa de muito foco, concentração e “cabeça boa”.
Contras:
– Pelo fato da esteira “passar por debaixo dos pés” o atleta acaba tracionando menos. Comparando com um treino outdoor, isso gera menor custo energético, menos adaptações fisiológicas e neuromusculares, o que pode significar, a médio e longo prazo, o atleta estar menos treinado;
– Às vezes, a velocidade da esteira não é bem aferida, bem calibrada. Para aqueles mais experientes, talvez isso não seja um problema, pois eles conseguem ajustar o ritmo independente da velocidade que está sendo vista. Mas para os iniciantes isso pode não ser tão fácil e nem tão simples assim;
– Mesmo a esteira inclinando, não é a mesma sensação que correr em uma subida. E quem já corre sabe muito bem disso. E também são pouquíssimas esteiras que simulam descidas (inclinação negativa);
– As esteiras têm velocidade limitada e às vezes não muito alta. Para quem não é um exímio corredor talvez não faça muita diferença. Mas se você é daqueles que fazem intervalados abaixo dos 3’30”/km a “maquininha” vai ficar devendo;
– Treinar em esteira, por se um ambiente fechado, desidrata muito o atleta. Mesmo que o ambiente seja climatizado e/ou resfriado, a taxa de sudorese aumenta e o atleta se desgasta muito. Saber como e quando se hidratar é crucial para se treinar bem na esteira;
– E como se não bastasse, para quem está acostumado à correr em parques, ruas residências, trilhas e etc, correr em esteira torna-se extremamente enfadonho.
Contudo, nós (treinadores) temos total consciência de que o treino indoor se faz necessário, e que, às vezes, é a única saída para que o atleta não fique sem treinar. Por isso que esse tipo de treinamento, quando prescrito, deve realmente atender as necessidades individuais do atleta e, na medida do possível, aproximar-se ao máximo da realidade de um treino outdoor ou de uma competição.
Sendo assim, não existe treino perdido!
Bons treinos e até a próxima.