O cigarro faz mal e isso não é nenhuma novidade. Mas que ele ajuda a acalmar naquelas horas em que parece que o mundo está virando de cabeça para baixo e que dá aquela sensação de prazer, isso é inegável. Por causa disso, muitos fumantes se veem num fogo cruzado entre duas ideias que são opostas: o mal (cigarro afeta a saúde) e o bem (inegavelmente ele traz prazer). Virar o jogo não é algo fácil, até porque há provas suficientes de que o fumo vicia. É a nicotina (o principal alcaloide da planta do tabaco) a responsável pela necessidade que o cigarro cria.
Quando ela é absorvida na forma de fumaça, leva apenas 10s para alcançar os alvéolos pulmonares, cair no sangue e chegar ao cérebro, estimulando e acalmando (sim, ambas as coisas) o sistema nervoso central. Por provocar dependência química, ela se torna o maior percalço para quem pretende se livrar do vício. Explica-se: o cérebro se acostuma a trabalhar sob o estímulo da nicotina. Quando ele é interrompido, corpo e cérebro são obrigados a lidar com a nova realidade. É a chamada crise de abstinência, cuja “força” pode variar de pessoa para pessoa, mas que vem acompanhada de sintomas como irritabilidade, dores de cabeça, sudorese, alterações do sono e do apetite e até depressão.
Por isso, virar o jogo não é tarefa fácil, embora esteja longe de ser impossível. “A corrida é muito eficiente em diversas fases do abandono do cigarro, principalmente por ajudar a combater a síndrome de abstinência e as fissuras, bastante frequentes. Além disso, a atividade física regular proporciona sensação de bem-estar graças à liberação da endorfina e melhora os sintomas provocados pelo tabagismo, como a diminuição do fôlego e da disposição para as atividades do dia a dia. Ela também ajuda a recuperar a autoestima, uma vez que auxilia no controle de peso, queixa frequente entre aqueles que estão querendo largar o vício”, diz Gustavo Magliocca, médico do exercício e do esporte da Clínica Care Club, em São Paulo (SP).
Confira como o cigarro impacta na corrida:
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O VO2 max é um índice importantíssimo para medir a performance de qualquer corredor. Um estudo americano acompanhou um grupo de corredores que fumavam regularmente. Eles foram divididos de acordo com o número de cigarros que, em média, fumavam por dia. O resultado foi óbvio: quanto mais eles fumavam, menor o seu VO2 max -Foto: Pixabay
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O fumo faz com que as vias aéreas se contraiam. Mais: ele aumenta a chamada resistência das vias aéreas, ou seja, a taxa de movimentação do ar para dentro e para fora dos pulmões. Com isso, fica mais difícil para os pulmões receberem oxigênio -Foto: Pixabay
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Embora a perda de peso esteja ligada à melhora da performance e o fumo contribua para o emagrecimento, saiba: ele não leva a uma perda de peso saudável. O cigarro não só causa perda de apetite (culpa da nicotina) como também o aumento da taxa metabólica -Foto: Pixabay
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O oxigênio é transportado para as células ligado a uma proteína presente nas células vermelhas do sangue chamada hemoglobina. Embora o oxigênio tenha uma grande afinidade com a hemoglobina, a do monóxido de carbono com a hemoglobina é de 200 a 300 vezes maior. Sendo assim, o transporte de oxigênio às células musculares é tremendamente reduzido, o que tem um impacto enorme sobre a performance -Foto: Pixabay
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Os tabagistas podem ter capacidade aeróbica até 12% menor devido à concentração de monóxido de carbono no sangue. Fumantes apresentam, também, níveis de lactato mais altos, o que faz com que eles se sintam ofegantes e exaustos com mais rapidez. Outro ponto negativo das baforadas é que elas prolongam o tempo necessário para que o VO2 atinja o chamado estado de equilíbrio durante um exercício submáximo. “No repouso, utilizamos uma taxa de oxigênio pequena para nos mantermos ‘funcionando’. Durante o exercício, ela aumenta para produzirmos energia suficiente para realizar a atividade”, explica Gustavo Magliocca. “O fumo dificulta essa adaptação, o que faz com que a pessoa gaste mais glicose nessa transição e acabe tendo menos combustível no final.” -Foto: Pixabay
Texto: Amanda Preto | Edição: Leonardo Guerino