Escalar uma rocha de mais de 10 metros de altura usando apenas as mãos e as pernas sem nenhuma proteção? É basicamente assim que funciona o psicobloc, que conta apenas com a água de rio, mar ou lago para amortecer possíveis quedas. Não à toa, a modalidade também é chamada de deep water soloing.
Psico vem de psicológico. Uma alusão à tensão por estar a 10m de altura sem nenhuma proteção. Já bloc remete a bloco ou falésia. O escalador espanhol Miquel Rieira foi quem deu esse nome ao esporte, ao traçar, nos anos 1970, a meta de escalar uma falésia de 20m em seu país. Mas a origem da modalidade é datada dos anos 1960, quando escaladores espanhóis brincavam de subir rochedos de até 5m em Palma de Mallorca (Espanha) pelo simples prazer de despencar no mar.
Mallorca é até hoje o principal “point” do esporte no mundo. No Brasil, ele é praticado nas Ilhas Tijucas e Arraial do Cabo (Rio de Janeiro), e nos cânions do rio São Francisco.
Mas o que leva alguém a aceitar e, principalmente, a curtir tão ousado desafio? “A sensação de liberdade é um dos principais atrativos de uma escalada. No psicobloc, ela ainda é maior”, responde o espanhol Eneko Pou. Ao lado do irmão Iker, ele é um dos mais conhecidos nomes da modalidade no mundo. Para o mineiro Lucas, o psicobloc funciona como terapia. “Ele me proporciona muita paz, coragem e determinação. É uma atividade que geralmente você faz sozinho. E quando estamos sozinhos, é quando mais aprendemos sobre nós mesmos”, diz.
Sem proteção mesmo!
Liberdade também é a palavra de ordem ao vestir-se para a prática do psicobloc. Esqueça, portanto, qualquer roupa mais pesada que possa protegê-lo do contato direto com a rocha. Para que seus movimentos sejam livres e seu corpo não fique encharcado de suor, tudo que você precisa vestir é uma bermuda de tactel e uma camiseta de lycra ou suplex, usadas, por exemplo, em esportes como o ciclismo.
O único acessório diferente é a sapatilha própria para escaladas. Luvas? Nada disso. O contato dos dedos com a rocha tem quer ser direto no psicobloc. Para facilitar a aderência, evitando que o suor provoque “escorregões”, você deve passar carbonato de magnésio nas mãos, aquele pó branco que os ginastas utilizam para manterem-se firmes nos aparelhos. “Esse material fica em um saquinho preso na cintura do escalador”, diz Dallorto. Qualquer outra coisa que facilite sua escalada é considerada trapaça. Seria quase a mesma coisa que pegar carona em um carro durante uma maratona.
No entanto, para praticar o psicobloc é preciso saber cair, posicionando o corpo de forma correta. De fato, a água é um fator de segurança, mas não espere bater em algo mole, como um colchão inflável. Se você cai de mau jeito, pode se machucar. E como as quedas são inevitáveis nessa modalidade, melhor se preparar.
Se a profundidade da água for inferior a 6 m, é preciso evitar afundar demais. Assim, a queda deve ser feita em posição fetal: braços segurando as penas flexionadas próximas ao tronco. Se o local da queda for mais profundo, basta cair com o corpo esticado (braços próximos e elevados, pernas estendidas). A ideia é que você “fure” a água como se fosse uma agulha.
Psicobloc tem suas vantagens!
Além de exercitar a mente em vários sentidos, o exercício que a modalidade proporciona fará muito bem aos músculos. Flexibilidade, força e resistência muscular são aptidões trabalhadas exaustivamente nas escaladas. E, acredite: é tanta adrenalina jorrando nas veias que metabolismo nenhum fica imune.
Loucura, esporte, brincadeira. Qualquer que seja a palavra que melhor defina o psicobloc, uma coisa é certa, ninguém vai praticá-lo de primeira. É preciso começar pela escalada esportiva convencional, com direito a corda, entre outros acessórios típicos do esporte. Pessoas que têm muito medo de escalar precisam de até um ano de prática antes de experimentar o psicobloc. Já os mais habilidosos e corajosos conseguem a façanha em até dois meses.
Por fim, vale reforçar que a melhor forma de aprender o esporte com segurança é procurar uma escola ou centros especializados.