A Comrades é uma ultramaratona muito cobiçada por sua beleza e complexidade. Ela começou em 1921 e, desde então, desafia corredores de todo o mundo a se enveredar pelas rotas acidentadas de Durban, na África do Sul. Neste ano, ela acontecerá no dia 4 de junho e reunirá um grupo seleto de participantes dispostos a colocar todo o seu treinamento à prova. O ultramaratonista brasileiro Leandro Carvalho participou trêz vezes consecutivas e, na última vez, em 2016, completou o percurso em um tempo notável: foram quase 90 km em 7h50min. Apesar de ser um veterano no desafio, Carvalho garante: a cada ano, a prova consegue surpreender mais. Leia o depoimento dele e inspire-se: a Comrades pode ser a sua grande meta futura! Se você vai correr o desafio pela primeira vez, boa sorte!
“A Comrades é diferente de todas as provas que já participei. Ela é apaixonante, não é a toa que foi minha terceira participação seguida e, enquanto tiver saúde, continuarei participando. O preparo para o desafio se inicia logo no começo do ano, em torno de 5 a 6 meses de treinamento. Durante a preparação, incluí algumas provas longas como a maratona de SP, Desafio Extremo 71 km, e outras para deixar o treino mais dinâmico. A rodagem semanal no pico do treinamento chegou a 150 km, com treinos até 6 vezes na semana, sendo no final de semana o longo – de 50 km a 70 km, no máximo. A Comrades deste ano foi Downhill, prevalecendo em sua maioria as descidas, largando da cidade de Pietermaritzburg situada a 650 m acima do nível do mar, com chegada em Durban no nível do mar.
O percurso muda para subidas em anos alternados, e sua distância se altera ligeiramente de 89 km nos anos de descida para 87 km nos anos de subida. Entre a largada e a chegada existem as BIG FIVE (alusão aos cinco maiores animais da África, mas no caso da prova, às montanhas no percurso) Polly Shorts, Inchanga, Bothas’s, Field’s e Cowies Hill.
Durante todo o caminho há milhares de espectadores apoiando de todas as formas, com uma palavra de incentivo, um alimento, uma massagem… Até churrasco nos oferecem. É uma verdadeira festa, em muitos momentos a emoção toma conta, sem falar na chegada, que acontece dentro do estádio de Kingsmead: a presença dos familiares e amigos na tenda internacional é inesquecível, um momento único.
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Única, encantadora, cruel e apaixonante são algumas palavras dentre outras muitas para definir essa prova que vivencio há três anos. Foram milhares de quilômetros percorridos, várias noites mal dormidas, dores musculares, privação da vida social, para chegar o dia dela: mesmo já tendo participado, a Comrades mostra a cada ano que é uma prova única, cheia de surpresas pelo caminho, o que faz com que pareça que é a minha primeira vez percorrendo as estradas sul-africanas. Você é empurrado por uma magia e uma energia de tudo o que cerca, tanto pela troca de energia dos camaradas corredores como dos milhares de espectadores que nos encorajam com suas palavras de incentivo.
Parece engraçado, mas é o sonho mais gostoso e dolorido que já vivi (e como dói). A cada passo, os músculos ficam mais doloridos, mais difícil de suportar as pancadas, o corpo já não aguenta mais, e você começa a se perguntar o que está fazendo ali, por que está fazendo aquilo. Afinal, qual a necessidade de tanto sofrimento? As perguntas são tantas, mas a resposta logo aparece: eu sou um ser beneficiado e iluminado por poder estar ali, por ter saúde e logo isso se transforma em muita garra, superação e força para continuar trilhando esse lindo sonho.