Continuando nossa série sobre mulheres ultramaratonistas, conhecemos hoje a história de Luciana Zauhy Garms, 39 anos, médica ortopedista, que mora em São Paulo/SP. Luciana conta um pouco sobre como foi evoluindo na corrida, começando nos 5 km até chegar nas ultramaratonas, compartilhando suas experiências positivas e negativas. Confira:
“Minha vida como corredora começou na época da faculdade, há uns 15 anos. Entrei para a equipe de atletismo na prova dos 1 500 m porque estavam precisando de uma mulher no time, mas eu gostava mesmo era de nadar. Na corrida, meus treinos não passavam dos 5 km. Anos depois, comecei a praticar mais a corrida. A primeira prova que fiz foi com amigos da academia onde treinava, na maratona de revezamento Ayrton Senna.
Em 2013, a corrida já fazia parte da minha rotina. Na época, estabeleci como meta correr uma meia maratona. Treinei por conta própria com uma amiga ao longo de 8 meses e fiz os 21 km. Foi uma sensação incrível superar a distância, mas até então nunca tinha imaginado fazer uma maratona. Achava que era coisa de gente maluca!
Em uma viagem de férias, fiz minha primeira prova de montanha no Deserto do Atacama, correndo 23 km. Quando terminei, olhei para os atletas que haviam feito os 42 km e pensei, ‘um dia volto e faço a maratona’. Então, no início de 2014, decidi treinar para fazer a maratona no Atacama, que seria em dezembro daquele ano. Me dediquei por quase um ano e completei a prova em 6h30min. Passei a treinar sob a orientação do Emerson Bisan e, em 2015, coloquei como objetivo uma prova de 50 km. O que sempre me chamou a atenção em ultras é o número de mulheres, que diminui conforme a distância da prova aumenta. Eu queria ser mais uma a marcar presença.
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Foi uma experiência incrível cruzar a linha de chegada dos 50 km, que completei em 10h30min. Em todo esse tempo, você pensa em muitas coisas, sente dor, tem vontade de desistir… O corpo cansa muito antes da cabeça, e é aí que está o grande desafio das ultramaratonas: colocar a cabeça no comando do corpo. Lógico que, sem um bom preparo físico, você não consegue seguir, mas o domínio da mente é um exercício fundamental nas provas longas.
Tive algumas decepções, como não conseguir completar uma prova de 70 km (fiquei no corte da prova, no km 35). Foi então que traçamos um treinamento para uma prova de 81 km no sul do país, em trecho de praia. Acho que foi a praia mais longa que já tinha visto.
Foi um divisor de águas conseguir completar 81 km! Acho que a superação do seu próprio limite e saber que você pode são as maiores recompensas. Disciplina e dedicação podem levá-la ao lugar que você quiser! E isso você leva para o seu dia a dia, lidando melhor com os problemas. Hoje, minha meta é fazer uma prova de 100 km e parar por aí. Depois, vou ficar nas maratonas, pois a rotina de treino para uma ultra é muito desgastante. Correr uma ultramaratona não é a parte mais difícil; o mais difícil, sem dúvida, é treinar para ela. Mas nunca diga nunca!”
Texto e Pesquisa: Amanda Preto e Gabriel Gameiro | Edição: Victor Moura