Há alguns anos, se alguém me dissesse que um dia eu completaria uma maratona, chamaria essa pessoa de louca. Mas os dias foram passando, os quilômetros também e as ideias foram mudando dentro da minha caixa de pandora.
Após pensar muito tive aquele empurrão vindo dos familiares que sempre me apoiam, mas ainda achava impossível um ex-obeso completar tal distância. Foi aí que a Ztrack entrou na minha vida e em uma avaliação me contou que era possível se eu cumprisse à risca uma planilha de treino.
Então, em abril deste ano, recebi a tal planilha para ser o maratonista da família. Não foi nada fácil ver que meus finais de semana teriam 25 km, 30 km e 35 km para correr em uma paulada. Pensei em desistir várias vezes, muitas mesmo. Os treinos durante a semana também eram bem desafiadores, mas meu treinador sempre dizia: “Rodrigão, foi você que clicou lá em se inscrever (para a SP City Marathon deste ano), só preciso te preparar, não tenho culpa”. E realmente era isso, a decisão foi minha e ele pegava pesado porque precisava ver o meu desempenho.
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O dia da prova
No dia da SP City Marathon (30 de julho de 2017) minha cabeça estava a mil, pensando 200 coisas por segundo. Sentia medo, ansiedade, medo e nervosismo. Mas quando me alinhei para largada, isso mudou – fiquei sereno e com o sentimento de dever cumprido e que dali até a chegada seria a parte mais fácil.
Cruzei o pórtico de largada às 6h12 da manhã fria que fazia em São Paulo. Tudo era mágico, tudo era festa e a cabeça ficou sem pensar em nada, a não ser na próxima passada ou qual a próxima paisagem que viria. O ritmo da corrida estava confortável e assim iria até o final. Venci o centro e cheguei na 23 de Maio. Era uma subida sem fim e pensando em completar a prova, tirei o pé mais um pouco e só voltei a retomar o ritmo quando avistei o Ibirapuera e sabia que seria uma decida para relaxar as pernas, mas ali começaram os meus problemas.
Chegando no km 15, comecei a sentir um incômodo na frente dos dois joelhos, mas logo pensei em corrigir a postura da corrida, o que realmente ajudou a reduzir os desconfortos. Porém ao passar para o km 25 os incômodos voltaram e se tornaram dores de verdade. Prossegui com o sonho de completar a prova, seja lá de qual forma isso fosse acontecer. Mais adiante, no km 35, eu não conseguia mais dobrar o joelho e a dor era grande e já tinha feito 3h18 de prova. Caminhei por 2 km até encontrar o time dos Corredores da Zona Norte dando apoio aos corredores que por ali passavam e prontamente o atleta Marcelo Avelar me medicou, disse algumas palavras de incentivo.
Como tinha a ideia fixa de chegar correndo, continuei minha caminhada até o km 39 quando juntei forças e voltei a trotar. A essa altura da prova, os medicamentos que o Marcelo havia me dado já tinham feito efeito, tornando as dores suportáveis. Chegando ao km 40 na saída do último túnel, encontro meu sobrinho que tinha completado os 21 km e estava lá para me levar até a chegada. Com seus gritos de incentivo, esqueci que tinha dor e só pensava que corria ali não só por mim, mas por todos aqueles que torceram para eu completar a prova.
Já no km 41 ele grita, “olha quem está ali na mureta de azul”: era meu irmão que me colocou para correr os primeiros quilômetros em 2011, gritando e me empurrando para o final. Ali não teve jeito, corri os metros finais cheio de lágrimas nos olhos e sabia que não iria ter dor que me tirasse aquele gosto de vitória.
A chegada
Ao avistar o pórtico de chegada, meu sobrinho que ainda estava correndo comigo, só gritava comemorando que eu era um maratonista.
Não vi tempo, não ninguém , não sentia nada a não ser a alegria de ter completado a prova e de receber aquele primeiro abraço do meu sobrinho Cezar, que após ter conquistado o TOP 100 nos 21 km, voltou para me apoiar e me “carregar” até a chegada. O abraço no meu irmão depois de ter a medalha no peito significou o fechamento do ciclo da maratona, que foi divertido, sofrido, de medo, de coragem, de aflição e no fim no choro de quem venceu todos os medos internos e de fato é um maratonista.